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sábado, 26 de abril de 2025

110 anos do Genocídio Armênio

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Em 24/04/1915, teve início o genocídio armênio, com 1,5 milhão de vítimas. A luta por reconhecimento global e reparação permanece, unindo povos contra a negação histórica e reforçando a solidariedade internacionalista.

Aram Poladian | São Paulo (SP)


O dia 24 de abril marca uma data triste, mas também de luta pela memória de todo o povo armênio no mundo: há exatos 110 anos, em 1915, iniciava-se o processo de genocídio e perseguição do povo armênio no então Império Otomano ˗ atualmente território da Turquia. No total, até o ano de 1923, cerca de 1 milhão e 500 mil armênios foram assassinados em diferentes circunstâncias, vítimas da política de perseguição sistemática implementada pela coalizão dos Jovens Turcos, grupo político que visava a reforma da então monarquia otomana.

Ao longo da Primeira Guerra Mundial, com zonas de conflito em diferentes partes do Império Otomano, a violência perpetrada pelas nações imperialistas na partilha de mercados e territórios ficou evidente. Sob a tensão da guerra e a influência do Império Russo no Cáucaso – atual região da Armênia -, os armênios foram classificados como inimigos de estado dentro do Império Otomano, e em 24 de abril de 1915, no dia da Páscoa, suas lideranças políticas e intelectuais foram deportadas ou assassinadas. Essa primeira investida das forças policiais otomanas inaugurou a série de violações às quais o povo armênio seria submetido naquele período.

Mesmo com o conhecimento do Ocidente sobre as atrocidades cometidas dentro do Império Otomano, a perseguição étnica atingiu uma variedade de povos. Assírios, gregos, entre outros grupos tiveram comunidades inteiras condenadas à fome, doença e deportação. Apesar de todas as adversidades, entre 1918 e 1920 o povo armênio conseguiu sua primeira independência, mas isso não bastou para conter o grande fluxo de refugiados e a formação do que conhecemos hoje como diáspora armênia. Atualmente na Armênia (ou Hayastan na transliteração) há 3 milhões de habitantes, mas muitos outros milhões pelo mundo, que há mais de 3 gerações, buscam recomeçar a vida em diferentes países como Rússia, França, Estados Unidos e Brasil.

Luta pela História

Mais do que respeitar e honrar a memória daqueles que perderam suas vidas, o esforço de toda a comunidade armênia espalhada pelo mundo é na luta pelo reconhecimento internacional do genocídio, desbancando o negacionismo do estado Turco e clamando pela reparação das milhões de famílias afetadas.

Um exemplo da lentidão deste processo de reconhecimento é o próprio Brasil, que até hoje não reconhece oficialmente esse crime contra a humanidade, tendo aprovado apenas em 2015 uma moção de solidariedade ao povo armênio no Senado Federal. Trinta e três nações já declararam o reconhecimento, sendo o Uruguai o primeiro deles a fazê-lo, em 1965, entretanto ainda são poucos se considerarmos os 193 países integrantes da ONU. Ainda temos o longo caminho pela frente.

A ausência de reparação por um crime desta gravidade, infelizmente reflete a impunidade que testemunhamos internacionalmente, com o genocídio do povo palestino, com a deportação, em 2023, dos 150.000 armênios que habitavam a região de Artsakh ˗ também conhecida como Nagorno Karabakh, região localizada em território do Azerbaijão ˗, com a guerra civil na República Democrática do Congo, entre tantas outras atrocidades que estão em curso pelo mundo nos últimos anos.

A presença armênia no Brasil

A chegada dos armênios no Brasil teve início entre os anos 1910 e 1920, com muitas pessoas desembarcando dos navios em busca de moradia e emprego nos grandes centros urbanos do país. Atualmente a maioria dos armênios residem nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.

No centro da cidade de São Paulo temos muitas construções importantes para a comunidade, não é à toa que na linha azul do metrô ˗ a mais antiga da cidade ˗ você pode desembarcar na estação Armênia, cercada por e pela escola Hay Azkain Turian Varjaran, que permitiu que centenas de armênios acessassem educação e pudessem preservar o aprendizado da cultura e da língua do país. Ao lado da estação de metrô, temos também o monumento das vítimas do genocídio, que fica exatamente entre as 3 igrejas e recebe todo 24 de abril, cerimônias em memórias daqueles que foram martirizados.

Um evento tão catastrófico redefiniu todo o legado de um povo e deixou marcas irreparáveis, os armênios dirão que onde há 2 armênios uma nova Armênia ressurgirá, e é exatamente esse espírito que garante que tantos de nós lutemos por nossa história.

Não podemos deixar de pressionar as autoridades brasileiras pelo reconhecimento do Genocídio Armênio, ignorado em razão de “preservar” relações econômicas e diplomáticas com a Turquia, nem podemos permitir que o estado brasileiro continue sendo omisso com tantas outras causas internacionais. É urgente reforçar o caráter internacionalista da luta dos trabalhadores do mundo, principalmente enquanto o lucro for posto à frente da vida de milhões de pessoas.

Referência Bibliográfica:

Loureiro, Heitor de Andrade Carvalho. Pragmatismo e Humanitarismo: A Política Externa Brasileira e a Causa Armênia (1912-1922). N.p., 2016. Print.

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