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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Privatização da água mata: um alerta global

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A privatização da água causa mortes e surtos de doenças evitáveis. Isto é agravado pelo controle da água, como na Palestina, onde o acesso é negado propositalmente.

Chantal Campello | Cabo Frio (RJ)


A cada 15 segundos, uma criança morre no mundo por falta de acesso à água potável e saneamento básico. Esse dado alarmante, revelado pela UNICEF, evidencia uma tragédia global, que, embora invisível para muitos, é uma realidade cotidiana para milhões de famílias em países empobrecidos. O que está por trás dessa crise não é a escassez hídrica, mas um sistema econômico que transforma um direito fundamental como a água em mercadoria: o capitalismo.

Em muitos países onde a privatização da água ocorreu, houve cortes no fornecimento para os mais pobres e aumentos exorbitantes nas tarifas, resultando em surtos de doenças evitáveis. Esse processo, descrito por Marx como ‘acumulação primitiva’, onde recursos naturais são apropriados de forma privada para gerar lucros, é a principal causa dessa situação absurda.

Impactos na Saúde Infantil e Conflitos Políticos

Em 2022, 436 milhões de crianças, segundo a UNICEF, viviam em áreas com extrema vulnerabilidade hídrica, especialmente na África Subsaariana, Ásia Central e Oriental, e no Oriente Médio. A falta de água potável e saneamento básico é responsável por mais de 1.000 mortes diárias de crianças menores de 5 anos. Doenças como diarreia, febre tifóide e cólera poderiam ser prevenidas com serviços básicos de higiene e água limpa. Além disso, diversas crianças deixam de estudar para buscar água, e escolas sem saneamento adequado prejudicam a permanência e o desempenho dos alunos. A crise hídrica não é apenas uma questão de saúde; sem acesso a água limpa, as comunidades ficam presas em um ciclo de miséria.

O controle da água é também utilizado como uma ferramenta de guerra. Em territórios ocupados, como na Palestina, o acesso à água é sistematicamente negado propositalmente como forma de dominação. Em 2025, Israel impôs um bloqueio total à Faixa de Gaza, impedindo a entrada de água, comida e remédios, criando uma catástrofe humanitária. Agricultores palestinos não conseguem irrigar plantações, famílias palestinas vivem com menos de 3 litros de água por dia, enquanto assentamentos ilegais israelenses têm abastecimento contínuo e irrigação em áreas desérticas. A escassez é política.

A mercantilização da água no Brasil

Mesmo sendo uma potência hídrica, o Brasil não escapa da lógica de mercantilização da água. Os casos da SABESP (São Paulo) e da CEDAE (Rio de Janeiro) são exemplos claros de como a privatização de estatais de água piora o serviço e pune a população mais pobre. No Rio de Janeiro, a privatização da CEDAE em 2021 gerou protestos, greves de trabalhadores e denúncias de aumentos abusivos nas tarifas. Comunidades periféricas relataram maior frequência de cortes no abastecimento e piora na qualidade da água.

Em São Paulo, a privatização da SABESP, aprovada em 2023, seguiu o mesmo roteiro: aumentos de até 40% nas contas de água, demissões em massa e precarização dos serviços. Mesmo com promessas de “eficiência”, bairros pobres continuam sofrendo com intermitência e falta de pressão na rede. As greves dos trabalhadores da SABESP e da CEDAE alertaram para os riscos da entrega de um recurso essencial ao controle privado.

A saída é o socialismo

A água, patrimônio do povo, foi transformada em fonte de lucro para acionistas em detrimento da saúde pública e da dignidade da população. A morte de uma criança a cada 15 segundos por falta de água é um reflexo de um sistema que lucra com a miséria. O capitalismo, ao transformar a água em produto, institucionaliza a exclusão, a doença e a morte. No Brasil e no mundo, é preciso reverter a privatização dos recursos hídricos, garantindo a gestão pública, transparente e participativa da água. Um bem comum, um direito humano, não pode ter dono. Água é vida e por isso não deve ter preço.

Somente uma sociedade socialista, baseada na propriedade coletiva dos meios de produção, pode garantir o acesso universal e igualitário à água. Ao romper com a lógica do lucro e da mercantilização imposta pelo capitalismo, o socialismo coloca a vida humana e o meio ambiente no centro das prioridades. A gestão dos recursos hídricos, sob controle popular, deixa de ser um negócio para se tornar um serviço público voltado para as necessidades reais do povo. É nesse modelo que a água deixa de ser privilégio de poucos e passa a ser um direito efetivo de todos nós.

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