Lançado clandestinamente em 1968, ‘Sobre o Movimento Estudantil’ faz uma análise da conjuntura política do Brasil, que vivia quatro anos da ditadura militar, e traçava os caminhos que a luta dos estudantes deveriam tomar em relação ao país naquela época, dentro de um processo de acirramento da luta de classes.
Luiz Henrique | Recife (PE)
JUVENTUDE – Não é absurdo dizer que o livro “Sobre o movimento estudantil” deve exercer papel semelhante ao ‘Que fazer?’ de Lênin, no contexto histórico das lutas estudantis no Brasil. Publicado clandestinamente em 1968 pelo editorial “A Luta”, pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR), contendo sua análise do movimento estudantil daquela época, seu caráter de classe e quais as principais tarefas e características, desse que é um dos seguimentos mais importantes dos movimentos sociais. A segunda edição, lançada em 2005, praticamente esgotada, precisava de uma atualização, especialmente próximo aos 30 anos da União da Juventude Rebelião (UJR) nesse ano de 2025.
Essa obra, semelhante ao brilhante livro do grande líder da Revolução Russa, Lênin, é também um ‘guia para a ação’ nesse espaço de luta tão importante que é o movimento estudantil. Os exemplos são muitos! A começar pelo papel designado ao movimento estudantil nos dias atuais: “desmascarar a ditadura do capital, a exploração e a opressão capitalista-imperialista e forjar quadros para a revolução socialista”. Para os estudantes que viveram numa ditadura aberta e formal, tal como foi a Ditadura militar fascista de 1964, o livro, produzido nesse contexto, responde igualmente bem ao problema da tarefa do movimento estudantil: “desgastar a ditadura, e formar quadros para a revolução”. Hoje, apesar de estarmos em outro contexto político, as observações dessa obra ainda trazem consigo enorme serventia.
Podemos afirmar que o texto vai além, ao discutir não só a importância das lutas reivindicatórias como o entendimento também da unidade dialética existente daquelas com as lutas políticas: “(…) nenhuma luta de massas é simplesmente reivindicatória ou simplesmente política. Expressando a dialética do complexo social, toda reivindicação (luta por restaurantes gratuitos) é, ao mesmo tempo, uma luta política (luta contra a política educacional do governo que objetiva privatizar o ensino, transformá-lo em fonte de lucros) e, inversamente, toda luta política (luta contra a política educacional do governo) é uma luta reivindicatória (luta por mais vagas, ensino gratuito, etc.).”.
Desse modo, entendemos que as lutas reivindicatórias são a base sobre a qual nascem as lutas estudantis, o desprezo a estas é uma das maneiras de levar ao isolamento o movimento de grande maioria dos estudantes, contribuindo para a decadência acelerada da educação no país, dado que os maiores interessados nela não estão fortes e organizados para responder aos incessantes levantes da burguesia contra os filhos da classe trabalhadora.
Por outro lado, achar que as lutas políticas são secundárias ou até prejudiciais ao movimento estudantil é puro reformismo: acreditar que é possível construir uma educação pública de qualidade sem luta política (disputa pelo orçamento das escolas e das universidades, combater um Estado que se nega a conceder os avanços concretos que exigem os estudantes e educadores) é ignorar a história brasileira e de todos aqueles que tentaram até hoje, no Brasil, país dependente e espoliado no sistema capitalista-imperialista, instituir uma educação de qualidade.
O movimento estudantil hoje
A União Nacional dos Estudantes (UNE), dirigida majoritariamente pela Juventude do PCdoB (UJS) há mais de 40 anos, e que, não só abandonou as reivindicações mais básicas dos estudantes, como também põem panos quentes todas as vezes que o atual Governo Federal despendem cortes aos recursos da educação pública, seja por intermédio de reduções orçamentárias ou de verbas para permanência e assistência estudantil, como vem ocorrendo intensamente desde 2024 quando entrou em vigência a violenta política de austeridade fiscal do Governo Lula 3, que conseguiu agradar até o golpista Michel Temer, autor da PEC da morte, que disse: “É um bom projeto, eu acho que cortar gastos é uma coisa sempre útil. (…) O Haddad, nesse sentido, é uma agradável surpresa.” …
Além de nos alertar contra o reformismo e o voluntarismo aventureiro, nos orientar no dia a dia da luta sobre as diferentes formas de luta nesse espaço, “Sobre o movimento estudantil”, ao cristalizar um longo período de lutas do M.E. brasileiro (sob uma linha política acertada), sempre inseridas na totalidade das lutas populares, além de apontar como horizonte que só será possível uma educação realmente humanista, comprometida com a ciência e a resolução dos grandes problemas da humanidade, com a transformação radical dessa mesma sociedade. Ou seja, com a Revolução e a construção do Socialismo. É com esse espírito e disposição que a UJR vem construindo o movimento Correnteza, que nesse último congresso da UNE se consolidou como a maior força de oposição ao campo majoritário, justamente por seguir esses ensinamentos, e não fazer a luta de forma isolada, como que falando sozinho e distante dos estudantes.
Em um momento no qual a luta por Memória, Verdade e Justiça se aprofunda cada vez mais, “Sobre o M.E.” é um documento histórico valiosíssimo para todos aqueles que querem manter a Imortalidade de nossos Heróis que foram martirizados durante a Ditadura Militar Fascista e impedir, novamente, outra “anistia” para todos os golpistas do 8 de Janeiro, sejam burgueses, militares ou o genocida Jair Messias Bolsonaro. O movimento estudantil cumpre um papel importante na atual conjuntura em que vivemos, mas apenas com uma boa formação política e teórica, aprofundando os conhecimentos de nossa história é que poderemos ser exitosos nessa tão honrosa tarefa.