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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O pixo como ferramenta de protesto

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Após a reinauguração da Feira do Açaí, em Belém, uma pichação gerou ataques contra artistas de rua e intensificou a presença policial no espaço, o que demonstra a importância do debate sobre a criminalização da arte periférica e do pixo como ferramenta de protesto.

Jon da Rima e Lana Borges | Belém (PA)


BRASIL – As elites burguesas criaram uma série de consensos e códigos sociais ideológicos para promover a exclusão sistemática de grupos sociais, e deslegitimar manifestações artísticas e políticas que possam ameaçar o seu poder. Assim, percebe-se que se tornou algo normalizado no pensamento coletivo odiar e menosprezar toda arte e cultura proveniente das periferias, das favelas, das pessoas negras e pobres.

Após a reinauguração da Feira do Açaí em Belém-PA, espaço de cultura popular onde são realizadas rodas de samba e carimbó, houve um grande linchamento digital contra os artistas de rua por conta de um pixe feito em um banco colocado no espaço. Depois disso, o espaço passou a ter maior presença da polícia e intimidação, o que pode acabar afastando os frequentadores da feira e retirando da população este espaço de lazer.

A grande crítica e preconceito da população em relação ao movimento cultural que ficou conhecido como “cultura hip hop” e à arte de rua em geral não é por acaso. Esse movimento nasceu na periferia dos EUA e é um dos principais movimentos artísticos no Brasil com protagonismo de pessoas negras e periféricas.

A pichação veio para o Brasil no contexto da ditadura militar de 64. Este ato político de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos é uma forma de intervenção que tem como objetivo principal a promoção da transformação social. É utilizada até hoje como uma forma de protesto e denúncia principalmente pela juventude periférica, socialmente excluída e ignorada por representantes políticos.

Justamente pela forma como nasce essa manifestação artística, com forte caráter político de protesto, o pixo foi sempre criminalizado e associado a tudo o que é “marginal”, ao vandalismo, à falta de respeito. Hoje, vemos que essa expressão artística é importante, pois ela é um afronte ao padrão cultural burguês, que prega a submissão aos valores dessa classe dominante.

Apesar de estarem relacionados e fazerem parte desse universo da arte de rua, o pixe e o grafite são manifestações artísticas diferentes. A pichação é um ato de protesto e resistência, criminalizado pelas autoridades públicas. O grafite, por outro lado, apesar de ter nascido de uma cultura de periferia, é visto muitas vezes como uma obra de arte e recebe autorização das autoridades públicas para serem feitos. Portanto, é preciso compreender que o pixe, como forma de protesto que é, tem função de incomodar, não de se adequar às normas sociais burguesas, e não necessita, nem nunca vai ter, autorização dos opressores e de sua máquina pública para existir.

O ato de promover uma onda de ódio em massa contra a cultura da periferia e a arte de rua, principalmente por parte de autoridades públicas, como foi feito pela prefeitura de Belém através do prefeito Igor Normando, só mostra o quanto vivemos em um país elitista e racista, que odeia tudo o que não é colonizado, que não se adequa à lógica capitalista, que vem das favelas e periferias e, principalmente, tudo que ameaça às elites, suas ideologias e seus espaços exclusivos e higienistas, que não quer ser comparado, confundido ou associado ao povo pobre.

Isso se tornou ainda mais perceptível com as obras da tão propagandeada COP 30, que não é mais do que uma forma dos governos do Estado e do Município, ambos comandados pela oligarquia dos Barbalho, atraírem bilhões em investimentos em obras públicas que não têm intuito nenhum de servir à população pobre, somente atender aos interesses do mercado imobiliário da cidade. Por isso, são priorizadas obras que valorizam ainda mais as áreas nobres como a Doca e a Avenida Tamandaré.

Portanto, é preciso manifestar nosso ódio de classes e indignação com a péssima gestão do atual prefeito da cidade de Belém, que trabalha dia e noite para os ricos da cidade, e quer empurrar o povo trabalhador para cada vez mais longe dos centros urbanos. Acima de tudo, é preciso conhecer nossa história e descolonizar nossa visão sobre arte e cultura, parando de reproduzir e combatendo essas visões elitistas e opressoras que criminalizam a arte de protesto e resistência, que são instrumentos importantíssimos para a nossa luta revolucionária de construção do socialismo no país.

Matéria publicada na edição impressa  nº318 do jornal A Verdade

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