Centenas de famílias, idosos e crianças da Ocupação Palestina Livre, em São Paulo, organizada na campanha nacional do MLB no dia 7 de setembro, foram violentamente despejadas pela tropa de choque do governador fascista Tarcício
Redação SP
BRASIL – Cerca de 200 famílias, incluindo mães trabalhadoras, idosos e dezenas de crianças, ocuparam um prédio abandonado no bairro Liberdade, centro de São Paulo, no dia 7 de setembro. O local estava abandonado, sem cumprir função social, acumulando poeira e entulho. A ocupação foi parte da campanha nacional “não há independência e nem soberania sem direito à moradia”, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
Desde cedo, centenas de famílias e militantes do movimento se uniram para limpar e tornar o espaço habitável e livre da fome. As crianças estavam brincando na creche coletiva organizada no local. O almoço já estava sendo preparado e o cheiro de feijão já perfumava o ar dentro da ocupação quando a tropa de choque, desproporcionalmente paramentada e com a presença de caveirões, começou a usar bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de pimenta nas famílias e militantes do lado de fora, incluindo os advogados, imprensa e apoiadores.
As janelas de todos os andares do prédio estavam cheias de mulheres, jovens, crianças, trabalhadores e trabalhadoras gritando as palavras de ordem do MLB em defesa da moradia digna, mas o efeito do gás subiu até os últimos andares, onde estavam as crianças, obrigando os militantes a fecharem as janelas.
Durante a ação violenta promovida pela PM, as famílias foram despejadas, duas pessoas ficaram feridas e dezenas passaram mal devido às bombas e gás de pimenta. Uma mulher, trabalhadora e ocupante, que desmaiou, sofreu assédio na ambulância, numa tentativa de deslegitimar a luta por moradia. Além disso, apenas três dias após a Ocupação os pertences das famílias e itens da Ocupação foram devolvidos, com o almoço que estava breve a sair já estragado pelo tempo.
Dona Maria*, uma das famílias que ocupavam o local, reforça que “nós estávamos fazendo uma coisa que o governo não faz. Nós estávamos lá para lutar contra a pobreza, apoiar a população, dar uma vida mais digna. Eles não estão nem aí para quem é pobre, para quem vive em comunidade, quem ganha um salário mínimo, porque eles estão na boa vida deles e é a gente que está sofrendo. Quando nós vamos procurar um jeito de sobreviver, de ter pelo menos uma vida melhorzinha, eles atacam do jeito que atacaram”
E continua
“Eu saí de lá carregada pelos companheiros, porque não aguentava nem ficar de pé. Eles machucaram os companheiros que estavam na linha de frente. Difícil falar (dona Maria se emociona). Eles não respeitaram as crianças e nem os idosos, não respeitaram nada e nem ninguém. Mas nossa luta não vai parar por aqui!”.

Campanha nacional por moradia

É por isso que o MLB lançou a campanha “Não há independência nem soberania sem direito à moradia”, realizando 18 ocupações em 15 estados brasileiros e denunciando a condição precária com que milhões de famílias vivem no nosso país, sem acesso à saneamento básico, em áreas de risco ou pagando aluguéis abusivos.
A ação nacional mobilizou cerca de 5 mil pessoas, em todas as regiões do país, e todas as ocupações incluíram o nome Palestina Livre, homenageando a resistência do povo palestino e chamando a atenção para a repressão de estados fascistas contra a população. No Brasil, a PM se utiliza de armas e veículos blindados israelenses também para oprimir o povo pobre e trabalhador.
Nossa resposta é a luta

A opressão violenta da PM do Estado de SP, comandada pelo fascista Tarcísio (Republicanos), não intimidou as famílias do MLB. Pelo contrário. Saindo do imóvel de cabeça erguida, as famílias realizaram uma passeata pelo centro da cidade, no bairro da Liberdade, e puxaram palavras de ordem que reforçam a justiça da luta por moradia no Brasil e a necessidade de criação de um país socialista.
Ao gritar “esse país, está num abismo, a solução é construir o socialismo” foi possível ver dezenas de pessoas ao redor, que observavam a ação, gritando junto e prestando solidariedade às famílias do movimento. Além disso, vendas do Jornal A Verdade foram realizadas às pessoas que se interessaram, também, em somar forças ao MLB.
Após a reintegração ilegal e a manifestação, as famílias se reimuniram em assembleia para se fortalecer e planejar as próximas lutas.
Para Ivan, família organizada pelo movimento: “Nós não vamos baixar a guarda jamais, e a importância de ocupar o centro, é que quanto mais ocupações estiverem no centro, mais nós estaremos aqui no meio deles incomodando, mostrando nossas caras e aumentando a nossa luta, onde está a riqueza, onde nós possamos estar no meio deles, usufruir de tudo que tem aqui, porque o centro é do povo, o centro foi o povo que construiu e o povo tem direito dele, as famílias do MLB e todo o povo trabalhador”.
“Eu senti medo, muito medo pelas minhas crianças. Mas quando vi todas as famílias, quando vi o Movimento forte enfrentando aquilo tudo, tive certeza de que nada ia acontecer com a gente. To mais certo do que nunca de que nossa luta está certa! Se estamos incomodando então vamos incomodar mais, por que o Centro precisa ser do povo! Não podemos parar por aqui, camaradas!”, relatou Luiz.
Luiza*, imigrante haitiana e moradora da Ocupação dos Imigrantes Jean-Jacques, também do MLB, relatou ao Jornal A Verdade sobre a importância da construção de ocupações, que fazem valer a lei e oferecer moradia digna aos trabalhadores: “para mim é uma coisa incrível fazer ocupações, porque quando conheci o MLB e consegui uma moradia, fez muita diferença na minha vida. Ajudar outras pessoas que não conseguem pagar aluguel, que trabalham, mas não conseguem pagar o aluguel, representa muito para mim. E nessa ocupação percebi como a gente tem uma organização forte! Cada um tem uma função bem organizada.”
Não há dúvidas da força que a classe trabalhadora unida possui. Por isso, seguimos na organização de novas lutas pelo país. Pois, como diz o lema do MLB: quem luta, conquista! E há muito mais para conquistarmos, camaradas. Até a vitória!
*Nomes fictícios