Cortes no orçamento, terceirização e sucateamento dos serviços impactam diretamente a vida acadêmica da UnB, que registra falta de aulas por conta de não haver vigilantes.
Pedro Gheventer | Brasília
EDUCAÇÃO – Na noite do dia 3 de setembro, estudantes do Departamento de Música da Universidade de Brasília (UnB) foram surpreendidos ao encontrar as salas de aula e o auditório trancados. Por mais de uma hora, alunos e professores permaneceram do lado de fora, aguardando a chegada de um vigilante noturno que pudesse destrancar os espaços. A demora resultou no cancelamento de diversas aulas.
“A gente precisa vir para universidade tarde da noite para a aula, mas quando chegamos a sala está trancada. Ninguém vem dar satisfação sobre o que aconteceu, nenhum aviso é dado, nem os professores são avisados. É muito ruim essa situação de precarização”, relatou um estudante que preferiu não se identificar.
O episódio não é isolado, mas reflete um processo mais amplo e crescente de sucateamento da educação pública no Brasil. Nos últimos anos, cortes sucessivos no orçamento federal têm impactado diretamente a UnB, que hoje opera com serviços terceirizados em diversas áreas, incluindo segurança. Sem número suficiente de trabalhadores para atender a todas as demandas, falhas como a de quarta-feira tendem a ser mais frequentes.
Outro estudante, que também pediu para não ser identificado, reforça que a situação evidencia um problema mais profundo: as péssimas condições de trabalho dos funcionários terceirizados.
“Essa questão da precarização tem muito a ver com a situação do trabalhador. Provavelmente aconteceu alguma coisa séria com o vigilante, mas a gente não tem como saber. O trabalhador terceirizado não está nas mesmas condições que um servidor público, e isso acaba impactando diretamente no funcionamento da universidade”, afirma.
Para além da defesa do acesso à universidade, dentro de um cenário em que as políticas federais de fomento ao ensino superior privilegiam os principais grupos universitários privados, é urgente abrir o debate sobre as condições de trabalho de quem garante o funcionamento do espaço da universidade pública. Trabalhadores terceirizados enfrentam remuneração insuficiente, menos direitos trabalhistas e maior rotatividade, o que gera instabilidade para toda a comunidade acadêmica.
Em uma sociedade que privilegia o lucro de poucos em detrimento do direito de muitos, o resultado é um cotidiano marcado por insegurança, atrasos e salas trancadas — uma metáfora cruel para os obstáculos que os estudantes enfrentam.
Estudar é um direito, não um privilégio. A luta por uma universidade pública, gratuita, democrática e de qualidade depende da organização coletiva dos estudantes, professores e trabalhadores.