Trabalhadores das Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC) deflagraram greve em todo o estado em defesa dos seus direitos. Greve uniu sindicatos de várias categorias da empresa.
Redação SC
TRABALHADOR UNIDO – No dia 22 de setembro, trabalhadores da Celesc de toda Santa Catarina iniciaram mais uma greve. Dois dos pontos centrais das reivindicações são a isonomia de direitos e a estabilidade da estrutura sindical. A proposta do anuênio (reajuste anual do salário) de 1% para os novos trabalhadores, que já são mais da metade, foi negada pela diretoria, que não quis debater uma proposta concreta e equilibrada. Após cinco longas rodadas de negociação, a proposta final se manteve sem ganhos reais nem reajustes dos direitos sociais.
Frente à intransigência da presidência indicada pelo governador Jorginho Mello (PL), o amplo conjunto de trabalhadores eletricitários, representados pela Intersindical dos Eletricitários de Santa Catarina (Intercel), entidade que reúne os sindicatos locais dos trabalhadores do setor, recusou a proposta rebaixada e aprova a deflagração da greve.
A Celesc é uma empresa estatal e patrimônio do povo catarinense, que se orgulha de possuir eficiência na prestação de serviço e possuir a segunda fatura de energia mais barata do país inteiro. Isto resulta do fato de ser uma empresa pública e que valoriza seus funcionários. Mas, desde 2016 os novos quadros vêm sofrendo cortes de direitos sistematicamente, até que a situação se tornou insuportável.
Solidariedade de classe
A proposta dos sindicatos é que todos contribuam com um pouco para que seja garantido o aumento salarial para aqueles que ingressaram na empresa depois de 2016. Cristiano Passos, militante do MLC e dirigente sindical do Sinergia (que representa os eletricitários da região de Florianópolis), relata: “o anuênio, que acrescenta ao salário do trabalhador 1% a cada ano, faz uma diferença tremenda na valorização e incentivo do funcionário. Mas à medida que o tempo foi passando, esse direito foi desaparecendo dos acordos coletivos. Hoje estamos em busca dessa conquista, pois 52% da empresa é desses empregados mais novos e que não têm esse direito.”
Ele ainda acrescenta: “Isso vem com base em muita luta: o sindicato fez uma proposta que diminuísse o reajuste em 0,25% de todos os trabalhadores para poder cobrir o anuênio dos mais novos. Eu que entrei em 2004 só fui receber o anuênio quando os trabalhadores em 2007 abriram mão de 0,33% de seus reajustes para poder cobrir o anuênio da minha geração. Agora é justíssimo demonstrar essa solidariedade também aos novos trabalhadores, por esse mesmo motivo”.
Enquanto a diretoria procura separar as categorias e colocar uns contra outros, trabalhadores conscientes agem com solidariedade e união, sem deixar ninguém para trás.
As mais atingidas pela falta de isonomia são as mulheres, que trabalham em jornadas duplas ou triplas, lutando diariamente para garantir o sustento para si e seus filhos. Caroline, dirigente do Sinergia, afirma que a greve está sendo bem forte: “tem muitas mulheres paralisadas no estado inteiro. A gente sabe que essa falta de isonomia afeta muito elas. Tem muitas mães solo que são trabalhadoras na Celesc e elas precisam sustentar suas casas, suas famílias e dependem muito desses benefícios e do salário”.
Elaine, funcionária da Celesc desde 2014, que entrou na empresa em uma jornada de 20 horas semanais para cuidar da filha que sofre de asma crônica, afirma que a falta de sensibilidade dos diretores é reflexo da desigualdade salarial dentro da empresa.: “Desde que entrei, percebo que os diretores nunca deram o devido valor a nós, celesquianos. Sempre querem nos tirar os direitos já conquistados.” Ela acrescentou que o salário recebido não contempla as necessidades básicas: “tinha um ditado popular, ‘a preço de banana’, mas hoje nem a banana é barata, tudo é caro. Frutas, verduras, hortifruti, carne. Isso acaba refletindo no que tu consegue pagar com o teu salário.”
A atendente comercial ainda apresentou os desgastes que sofre no cargo. “O atendimento comercial é um trabalho predominantemente feminino. Eu sou mãe solo, sustento uma casa sozinha, e conheço a dificuldade daquelas que entraram na Celesc com um salário mais baixo.. Além disso, o novo sistema comercial que foi implementado gerou muitos erros: teve um dia que atendi a 180 clientes em 4 horas, muitos gritando. Ouvimos muitos relatos de agressões físicas e verbais, e vivemos isso tudo sem receber o reconhecimento que merecemos. Tem muitas famílias como eu que tem a sua saúde mental prejudicada por aguentar tudo isso. A isonomia de direitos é o mínimo,” relata Elaine.
Movimento grevista cresce
Um fato que surpreendeu foi que, somando-se à categoria majoritária da Celesc, no Dia Nacional do Técnico Industrial (23 de setembro), trabalhadores representados pelos sindicatos de técnicos industriais (Sintec), junto a sindicatos dos engenheiros (Senge), economistas (Sindecon) e químicos (Sindiquímica) anunciaram o início de sua participação na greve a partir do dia 25. Essa participação é inédita no passado recente.
“O Sintec é o segundo sindicato com mais trabalhadores na Celesc. Portanto, sua participação nessa greve é um elemento que agrega muita força ao movimento. Nós do MLC concorremos às eleições para direção do Sintec em 2024, com a primeira chapa de oposição de sua história. Fizemos uma votação muito expressiva nesta primeira participação. Hoje, avaliamos que não é coincidência esta nova movimentação de união sindical. Estamos contentes que nós técnicos finalmente podemos apresentar nossa solidariedade com a categoria majoritária, após anos de negociações paralelas, que segregam trabalhadores da empresa dos chamados ‘diferenciados’”, informa Jaime, da coordenação estadual do MLC. O referido movimento de oposição surgiu em meio a um profundo descontentamento da categoria, e sua proposta era de reorganizar os trabalhadores desacreditados da luta e voltar a crescer sua presença e força coletiva.
Organização é a chave
No presente movimento grevista os trabalhadores possuem a consciência de seus direitos, sabem apresentar suas reivindicações e escolhem bons momentos para desencadear as greves. Mas justamente para a vitória de todas as greves é necessário compreender que o estado capitalista é um instrumento de opressão contra os trabalhadores e se agrava quando nas mãos do fascismo.
Portanto, se organizar para enfrentar o fascismo, pois somente a organização das massas trabalhadoras é capaz de construir o poder verdadeiramente democrático. Esta é a única via que tornará possível garantir reestatizações, aumento na qualidade de vida, e trazer as riquezas socialmente produzidas para as mãos da classe trabalhadora.