Nascido em Belém (PA), Sérgio Miranda começou sua militância ainda como estudante, aos 15 anos, no movimento estudantil secundarista, quando ingressou Partido Comunista Brasileiro (PCB). Representou os estudantes do Ceará no Congresso de Ibiúna, quando foi preso, época em que estudava Matemática na Universidade Federal do Ceará (UFC), então militante do PCdoB, sendo expulso do curso em 1969, atingido pelo Decreto 477 do governo militar. Foi obrigado a viver na clandestinidade, organizando, assim, a resistência à ditadura. Sua extrema dedicação, firmeza e capacidade de organização na realização das tarefas, o levou ao comitê central do PCdoB.
Saído da clandestinidade, Sérgio Miranda foi transferido para Minas Gerais, com a função de organizar e ampliar o trabalho do partido. Em 1988, foi eleito vereador em Belo Horizonte, tendo grande atuação na criação da Lei Orgânica do município, além de ter sido o autor da lei da meia-entrada estudantil nos eventos culturais e esportivos.
De 1993 a 2006, foi eleito quatro vezes deputado federal, destacando-se da defesa dos interesses nacionais. Foi eleito por 11 vezes consecutivas na lista dos “Cabeças do Congresso” organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que elege os cem melhores parlamentares.
Especialista em orçamento, tornou-se referência nacional ao ser o primeiro a demonstrar o verdadeiro propósito da Lei de Responsabilidade Fiscal, criada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso: garantir o pagamento das dívidas externa e interna em detrimento dos serviços prestados à população.
Em todos os mandatos, apresentou emendas para a valorização do salário mínimo e foi sempre contrário à CPMF, denunciando que o imposto não servia à saúde, mas ao ajuste do sistema financeiro e à especulação. Participou ativamente dos movimentos nacionais em defesa do SUS e do ensino público, gratuito e de qualidade. Atuou na CPI das fraudes do INSS, na investigação do assassinato dos fiscais do Ministério do Trabalho.
Sérgio Miranda teve papel decisivo na criação do Plano de Carreira e Salários dos servidores federais do Judiciário e do Ministério Público – direito estendido a milhares de trabalhadores em todo o país. Além disso, foi um dos precursores da proposta de diminuição da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais, sem diminuição do salário. Além do mais, defendeu a adoção do software livre no serviço público e o desenvolvimento da informática nacional.
Em 2003 e 2005, votou contra a Reforma da Previdência, pois retirava direitos dos trabalhadores. Esta votação, somada a divergências com a linha política do PCdoB, levou Sérgio a sair do partido no qual militou por 43 anos, mantendo-se coerente com seus princípios e sua história de lutas.
Em 2008, foi candidato a prefeito de Belo Horizonte, obtendo 42.812 votos, ficando em quarto lugar no pleito. Em 2010, foi candidato a deputado federal em Minas Gerais com o apoio do Partido Comunista Revolucionário (PCR), das Brigadas Populares e da Refundação Comunista. Apesar de ter obtido uma grande votação (55 mil votos), ficando entre os dez candidatos mais votados na Capital, não conseguiu ser eleito.
Lutando a vida toda
Não abandonando seus princípios comunistas e a luta pelo socialismo, os últimos anos de sua vida foram marcados pela militância a favor dos movimentos sindical e popular. “O papel da esquerda é construir outro caminho, buscar alternativas para mudar a realidade, e essas mudanças somente poderão acontecer com a organização e mobilização do povo”. Tentou, nesses anos, com a mesma força de vontade que marcou toda a sua militância, passar sua experiência; dedicou-se ainda mais ao estudo da realidade brasileira, proferiu centenas de palestras, cursos, seminários, assessorou sindicatos e reuniu-se com lideranças populares.
No início do ano de 2012, descobriu que estava com um câncer no pâncreas. Iniciou um difícil tratamento em São Paulo, e as seções de quimioterapia não tiveram o resultado esperado. Nos últimos meses, foi morar em Brasília junto com a esposa, a engenheira Cristina Sá Brito, onde deu continuidade ao tratamento. No dia 26 de novembro, faleceu em casa, ao lado da mulher e da irmã Margarida Brito. Seu enterro no Cemitério Campo da Esperança, no Distrito Federal, foi marcado por uma grande emoção.
A primeira pessoa a falar foi sua irmã, afirmando que a maioria das pessoas ali presentes tinham uma convivência maior com o Sérgio do que os familiares, já que faziam parte da vida dele e compartilhavam dos mesmos ideais. Margarida lembrou que Sérgio era pessoa muito sensível aos problemas das pessoas, que sua relação na família foi sempre de muito respeito e carinho, que para a família ele era o Zó (apelido) e gostava muito de poesia.
Renato Rabelo, presidente do PCdoB, destacou a dedicação de Sérgio na construção do PCdoB, destacando-se como um dos melhores organizadores no período mais difícil na década de 1970.
Ronald Rocha, da Refundação Comunista, disse que “Sérgio gostava muito de debater a conjuntura, sendo que ele mesmo tomava a iniciativa de falar do assunto, era o primeiro a expor seus pontos de vista. Não tinha nenhum tipo de sectarismo, mas tinha posições claras sobre qualquer tema da realidade, era um intelectual, um militante dedicado às causas populares, admirado e respeitado por todos”.
Simman Sammer, das Brigadas Populares, destacou “a importância de Sérgio Miranda para a conjuntura política atual e o valor que Sérgio dava à necessidade da unidade popular no contexto atual”.
Fernando Alves, da direção nacional do Partido Comunista Revolucionário (PCR), afirmou que “Sérgio Miranda teve sua trajetória de vida marcada pela coerência e pelos princípios revolucionários. Era uma referência política na sociedade, em especial, para todos os que tiveram o privilégio e a oportunidade de conhecê-lo e de militar ao seu lado Por esses motivos, Sérgio Miranda estará sempre presente em nossas vidas e em nossas lutas!”.
Raimundo Rodrigues Pereira, diretor da revista Retrato do Brasil e grande amigo de Sérgio, bastante emocionado, conseguiu apenas pronunciar que Sergio era membro do Conselho Editorial da revista.
Para os comunistas e o povo, Sérgio Miranda deixa um grande legado, uma vida de muitas lutas, um exemplo a ser seguido, de que vale a pena lutar a vida toda e que esse é o caminho para que o socialismo um dia se torne realidade em nosso país e no mundo.
No sepultamento, a palavra-de-ordem “Sérgio Miranda, presente!” ecoou pelo ar para se espalhar por todo o nosso Brasil.
Da Redação