O problema da falta de maternidades é muito evidente no Recife e em muitas cidades brasileiras onde a saúde pública se encontra no caos e os leitos que se destinam às mulheres, em especial às grávidas, são insuficientes. Um fim de semana acompanhando uma parturiente com nove meses de gestação, em início de trabalho de parto, até sua saída da maternidade, foi suficiente para ver in loco o que já havíamos constatado em matérias na imprensa.
Isso porque estávamos no principal hospital de referência materno-infantil de Pernambuco, o Imip, para onde é encaminhada grande parte das gestantes com gravidez de risco do Estado.
Chegamos logo cedo, às cinco da manhã, para evitar a hora do burburinho. Na triagem, recebemos uma fita amarela, que indicava o grau de pouco risco e a não prioridade no atendimento. Iam chegando grávidas por todos os lados, com os mais diversos problemas. Os mais comuns são o de parturientes com pressão alta e mulheres com gravidez de sete meses com bolsa estourada. E quem não se encaixa nesse perfil fica esperando sua vez sem nenhum conforto ou assistência, causando indignação e algumas manifestações de revolta, já que as mulheres buscam o serviço de saúde pública num momento de muita sensibilidade, com dores de contrações e na iminência de trazer para o mundo um ser gerado no seu ventre.
O processo de parto pode demorar dois, três ou mais dias. Mas com a falta de leito e as incertezas que gera o atendimento insuficiente e negligente, as grávidas que não são consideradas de urgência esperam lá mesmo, dormindo em cadeiras ou dividindo as camas do setor de triagem, aguardando vaga.
Esta realidade se reproduz em centenas de maternidades públicas no País, onde grávidas estão sujeitas ao descaso, verdadeiros assassinatos de bebês por falta de assistência materno-infantil. Maternidades superlotadas negam atendimento às grávidas que perambulam por várias unidades, como aconteceu na maternidade municipal da Vila Nova Cachoeirinha (em São Paulo), em Vitória do Espírito Santo, em Ilhéus, na Bahia…
O Sindicato dos Médicos de Pernambuco tem denunciando de longa data o caos do sistema materno-infantil no Estado. No entanto, a falta de uma política, por parte dos sucessivos governos, nos diversos níveis, que contemple a ampliação de vagas ou novas unidades de atendimento, concursos públicos para profissionais da saúde, melhores condições de trabalho, salários dignos, provocaram a situação caótica a que esse serviços estão submetidos.
A desumanidade tem sido a tônica ao longo dos anos de descaso com a saúde pública, em especial com a saúde das mulheres grávidas. Nove meses gerando um novo ser humano em seu corpo para chegar o momento do seu nascimento – que normalmente vem acompanhado intensa de dor física – encontram um total desamparo do serviço público de saúde. As crianças filhas de pais das classes não abastadas já nascem no abandono, sentindo o peso da sociedade capitalista, em que o dinheiro é o que importa e o ser humano não passa de mão de obra barata para enriquecer um punhado de magnatas que usurpam e sugam o que há de mais humano em nós.
Guita Marli, Recife