Menos de dois anos depois das fortes chuvas que deixaram 916 mortos e 345 desaparecidos na região serrana, o Rio de Janeiro foi mais uma vez atingido por temporais que deixaram um rastro de destruição e mortes, marcando o início do ano com sofrimento e desespero para milhares de famílias que assistiram impotentes seus poucos pertences serem levados pelas águas.
Ao todo, três pessoas morreram e pelo menos 4.375 ficaram desabrigadas em cinco cidades (Angra dos Reis, Duque de Caxias, Seropédica, Petrópolis e Teresópolis). As maiores perdas aconteceram em Angra, onde 160 pessoas ficaram desabrigadas e 2.700 foram desalojadas. Já em Duque de Caxias, houve 400 desabrigados e mais de mil desalojados.
No distrito de Xerém, o mais atingido em Duque de Caxias, o temporal fez os rios e córregos da região subirem rapidamente, arrastando casas inteiras, deixando carros empilhados e destruindo quatro pontes que ligam a região ao resto da cidade. “O rio subiu em minutos. Ouvi um estrondo e, quando percebi, a minha casa estava alagada. Corri para tirar minha mulher e minha filha. Saímos com a roupa do corpo”, disse o motorista Carlos Alberto Silva, 47 anos, que teve sua casa destruída pela força das águas. “Acordei com um forte estrondo e só deu tempo de descer as escadas antes de desabar”, contou a dona de casa Osana Ferreira, de 41 anos. “Acordei e, quando vi, tinha água já na porta de casa. Não consegui tirar a geladeira nem a máquina de lavar”, lamenta dona Lena Pereira, de 57 anos.
Dias depois, em 17 de janeiro, uma adolescente morreu e duas crianças ficaram feridas em Niterói depois que um muro desabou sobre elas, enquanto que em Mendes, no Sul do Estado, uma criança de quatro anos morreu após o deslizamento de uma barreira.
Diante dessas tragédias, a primeira reação dos governos e dos grandes meios de comunicação foi se dizerem surpresos e jogar a culpa no excesso de chuvas, no lixo acumulado nas ruas e na insistência da população em morar em áreas de risco. Mas será justo colocar a responsabilidade na natureza e na população pobre por algo que poderia ser evitado pela ação governamental? Será que já não existem tecnologia e recursos suficientes para dar segurança a essas regiões e condições dignas de moradia a essas famílias? Por que os recursos arrecadados com os impostos pagos pela população não têm sido utilizados para evitar que, todos os anos, essa mesma história se repita?
Logo, não é da natureza, mas da ineficiência dos governos, a responsabilidade por famílias inteiras perderem suas casas e vidas serem ceifadas por conta das chuvas. Se nenhuma medida efetiva for tomada, novas tragédias acontecerão e mais vidas e famílias serão destruídas. É preciso o aumento e a efetiva aplicação das verbas para programas de prevenção de desastres, o fim da especulação imobiliária, a construção de moradias de qualidade e bem localizadas e melhores condições de vida para a população trabalhadora para evitar mais tragédias deste tipo, até porque as chuvas continuarão a cair e cabe, portanto, às chamadas autoridades se anteciparem aos fatos, preservando o que há de mais importante, que é a vida humana.
Heron Barroso, Rio de Janeiro