No dia 15 de março ocorreu um lamentável fato na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que repercutiu nacionalmente e chamou a atenção da opinião pública. Como acontece todos os anos, o início das aulas é marcado por trotes de alunos veteranos contra calouros, como são chamados os novos alunos.
O trote pode servir como uma espécie de “ritual de iniciação” no ambiente acadêmico ou como forma de integrar os novos aos antigos estudantes, sendo uma prática comum em muitas instituições de ensino superior do país. No entanto, em vários casos, esses trotes são marcados por agressões, humilhações e preconceitos, não contribuindo em nada com a integração. Pelo contrário, reproduzem práticas autoritárias e antiquadas da sociedade.
No trote praticado na UFMG, viu-se a inaceitável prática de racismo e de apologia do nazismo. Uma estudante foi pintada de preto e obrigada a segurar uma placa com a inscrição “Caloura Chica da Silva”, com uma corrente segurada por um aluno veterano. Outro grupo pintou um estudante de vermelho (numa clara referência comunista), amarrou-o com fita numa pilastra. Um dos veteranos utilizava um bigode imitando o do ditador alemão Adolf Hitler, fazendo ainda a tradicional saudação nazista com o braço direito erguido na altura da cabeça.
A Faculdade de Direito da UFMG tem sua história marcada por muitas lutas contra a repressão política no Brasil, pelas liberdades democráticas e por melhores condições de ensino. O local onde se realizou o ato de racismo e fascismo foi batizado como “território livre dos estudantes”, em homenagem ao líder estudantil José Carlos da Matta Machado, ex-vice-presidente da UNE assassinado pela ditadura militar na década de 1960. O local também é palco de importantes debates políticos, manifestações de protesto, reuniões e assembleias estudantis.
Essas ações não podem ser encaradas como simples brincadeiras, mas como graves crimes de racismo, preconceito e apologia do nazismo, apesar de alguns tentaram justificá-las. Qualquer tentativa de amenizar os fatos só naturaliza essas práticas discriminatórias.
Tais atos demonstram o caráter elitista e conservador da universidade, que não é envolvida por uma bolha e infelizmente reproduz em seu meio as mais diversas práticas de intolerância e preconceito da sociedade capitalista.
O movimento estudantil da UFMG repudiou o trote, organizando manifestações e assembleias para pressionar a Reitoria a punir os responsáveis pelos crimes, bem como a promover políticas para acabar com isso na universidade.
Porém, esses fatos não são novidade na UFMG, já que a própria Reitoria persegue lideranças estudantis, ataca deliberadamente os direitos humanos e não respeita aqueles que pensam diferentemente de suas políticas. Não por acaso, a UFMG é considerada uma das universidades mais conservadoras e elitizadas do Brasil.
Convocamos a juventude a combater o machismo, o racismo, o anticomunismo e toda e qualquer forma de discriminação, de intolerância política, religiosa, sexual, de gênero, econômica e ideológica, seja nas universidades ou na sociedade. Precisamos de uma universidade popular, aberta aos setores vivos da sociedade, integrada e comprometida com os movimentos e políticas sociais; que realize e incentive atividades que integrem os estudantes e unam a comunidade universitária na luta por uma universidade pública, democrática, gratuita e de qualidade!
Isabela Ligeiro, estudante da UFMG