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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Massacre anunciado: PM anuncia despejo de 8 mil famílias em Belo Horizonte

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A Polícia Militar de Minas Gerais anunciou para os próximos dias uma megaoperação de despejo de 8 mil famílias pobres

A Polícia Militar de Minas Gerais anunciou para os próximos dias uma megaoperação com forte aparato militar para despejar 8 mil famílias pobres que moram nas ocupações Rosa Leão, Vitória e Esperança, localizadas na região do Isidoro, vetor norte de Belo Horizonte. O despejo é uma ação covardemente arquitetada pelo Governo do Estado de Minas Gerais e pela Prefeitura de Belo Horizonte para defender os interesses da especulação imobiliária e acordos financeiros para implantação de empresas na região. A construtora supostamente responsável por um empreendimento, a Direcional Engenharia S/A, foi uma importante financiadora da campanha de Aécio Neves (PSDB) para senador por Minas Gerais em 2010. Aécio é candidato a Presidente da República nessas eleições.

Questionado na reunião pelos moradores das ocupações e por representantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e Brigadas Populares, sobre alternativas para os moradores da região, ficou clara a ausência de proposta para essas famílias e a completa irresponsabilidade do governo do estado e da prefeitura. Enquanto acontecia o pronunciamento, policiais militares se dirigiram às ocupações para coagir os moradores a abandonarem suas casas. Em panfleto entregue pela PM aos ocupantes o tom é de ameaça, chegando a responsabilizar os movimentos pelo possível massacre praticado pela repressão. Em um trecho o panfleto afirma: “Sugere-se que mulheres grávidas, idosos, crianças e pessoas portadoras de necessidades especiais saiam do local, para preservar a integridade física e psicológica dos mesmos. A responsabilidade pela saúde dessas pessoas é do movimento”.

A tortura psicológica contra as famílias é constante. Na quarta-feira (6/08), 15 viaturas da polícia acompanharam funcionários da Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig) que tentavam cortar a ligação de energia das ocupações. Frente à resistência pacifica da comunidade diante da ilegalidade na retirada de direito básico, a polícia distribuiu ameaças e humilhou uma moradora da ocupação Vitória que tentava conversar com a PM. “Você é uma piranha, sua puta. Eu gravei sua casa, vai ser a primeira que nós vamos derrubar e ainda vou dar um tapa na sua cara”, bradava o policial.

No mesmo dia, ocorreu reunião no 13º Batalhão da PMMG no bairro Planalto, com a presença do presidente da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) Genedempsey Bicalho; representantes da construtora Direcional; da juíza da 6ªVara de Fazenda Pública de Belo Horizonte, que deu a sentença de despejo, Luzia Divina. O comandante da PMMG, Coronel Machado afirmou que fará um despejo surpresa, o que é condenado pelo protocolo da própria Policia Militar. “O despejo acontecerá em 15 dias, mas não vou dizer o dia exato. Usaremos a força, saiam da área”, anunciou Machado. Na reunião os representantes das comunidades foram impedidos de falar e famílias das ocupações que aguardavam o resultado da reunião na porta do batalhão foram agredidas e tiveram armas apontadas para suas cabeças.

Charlene Egidio, uma das coordenadoras do movimento na região e moradora da ocupação Rosa Leão, afirma que a presença constante da repressão transforma a vida dos moradores em um pesadelo. “Helicópteros da policia faz voos rasantes de noite pra não deixar a gente dormir, incursões noturnas de intimidação, cavalarias e viaturas rodam a ocupação diariamente fazendo ameaças”, afirma.

“Resistiremos!”

Na assembleia das comunidades realizadas durante essa semana, a decisão é resistir ao despejo. “Nós não vamos sair do terreno. Ele estava vazio e agora tá servindo pra moradia. As três comunidades estão unidas nessa ideia” afirmou Elielma Carvalho, moradora da ocupação Vitória e membro da coordenação da comunidade.

Para Kelly Sabrina, moradora da ocupação Rosa Leão, a ação de despejo será uma grande covardia. “É muita injustiça esse despejo. A gente gastou tudo que tinha construindo na nossa casa. Teve gente que pegou até empréstimo. Mas o mais duro é a situação das crianças. Imagina chegar pra você crianças de 8, 10 anos de idade pedindo pra você não deixar derrubarem nossas casas. É difícil descrever, é de cortar o coração”, relatou Kelly.

Apoiadores e pessoas solidárias à situação do Isidoro lotaram o Espaço Livre Jose Carlos da Matta Machado, da Faculdade de Direito da UFMG, discutindo iniciativas de apoio às ocupações. A reunião contou com cerca de 200 pessoas que se dividiram em iniciativas de comunicação, recolhimento de mantimentos, escala de visita às ocupações, atividades politicas e culturais.

Natália Alves, Belo Horizonte

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