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quinta-feira, 28 de março de 2024

Spartacus: a luta pela liberdade

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Entre os séculos IV e I antes de Cristo, os cidadãos romanos foram regidos por uma República. O regime republicano contava com a predominância dos patrícios (classe dominante, dona das terras férteis e agricultáveis). Esse regime encontrou o seu declínio no século I a.C., a expansão do território de Roma enriquecia cada vez mais a elite, e colocava aos pés desta uma imensa massa de plebeus que não encontravam oportunidade de trabalho. Nesse momento, a força motriz da sociedade romana era o trabalho escravo, tanto no sentido das lavouras, como no sentido militar, pois os povos conquistados pelos exércitos romanos, prontamente serviam de base militar e econômica para a conquista de outros povos.

Porém, a política expansionista e o agravamento das tensões sociais acabam levando a República Romana ao colapso, e, ao final do século I a.C., o general Otávius consegue instituir o sistema imperial em Roma.

Um dos fatores de maior desgaste da República Romana foi a revolta de Spartcaus. Cerca de 70 anos a.C., um enorme exército de escravos, revoltados com suas condições de vida e liderados pelo escravo gladiador Spartacus, derrota o Exército romano várias vezes e institui um território livre da escravidão e da fome em Roma, até ser derrotado pelo maior empreendimento militar romano até então. Essa é a história contada por Stanley Kubrick no épico do cinema mundialSpartacus.

Com um elenco que contava com os atores mais requisitados da época (1960), Spartacus foi vencedor de quatro Oscars e sucesso de bilheteria no mundo inteiro por muito tempo. O filme pretende contar a biografia de Spartacus.

Devido à larga opção de mão-de-obra escrava, os grandes proprietários de terra, os patrícios, passaram a enriquecer cada vez mais e comprar (ou mesmo roubar) as terras dos pequenos proprietários, que eram jogados ou na escravidão por dívidas (que contraíam para se alimentar) ou nos grupos de saqueadores que se multiplicavam pelas estradas, assaltando comerciantes e viajantes. Tudo isso só aumentava a conturbação social dentro das fronteiras do Império.

Antes de Spartacus, várias revoltas aconteceram, porém com menor envergadura. A história desse gênio militar nato começa quando, condenado à morte, encontra um comprador que, pelo seu porte físico e habilidade para lutar, salva-o da morte com a pretensão de ganhar dinheiro, transformando-o em gladiador. Na Roma antiga essa era uma “profissão” que tornava o escravo muito famoso, em vista da existência de espetáculos em que homens duelavam com feras (leões, tigres) ou mesmo com outros gladiadores.

Tudo se inicia quando dois patrícios muito ricos chegam a Roma, um com sua esposa, outro com sua noiva, e decidem promover uma luta de gladiadores para “presenteá-las”. Spartacus  é escolhido para brigar até a morte com um gladiador negro que, ao final do combate, vence, mas se nega a matar Spartacus, atirando a sua arma (um tridente) contra a tribuna em que se encontram os patrícios. Este gesto custa a vida ao gladiador negro.

O episódio encheu Spartacus de ódio, já indignado com a situação que vivia ele e seus semelhantes. Esse é o estopim para a revolta que chegou a contar com mais de 90 mil escravos que derrotaram várias legiões romanas e atingiu metade da Península Itálica. Aquartelaram-se no cume do monte Vesúvio (um vulcão adormecido), e de lá passaram a atacar grandes propriedades patrícias e distribuir a riqueza desses ataques com os revoltosos, atraíam assim não só escravos fugitivos de toda a região, mas também camponeses e pastores pobres da região que sabiam ser essa vida melhor que as suas, porque as condições de vida em Roma nesse período eram bastante precárias. Para manter o luxo da elite de patrícios romanos, a imensa maioria da população havia que trabalhar forçadamente, além de pagar pesados impostos.

Assim, em um curto espaço de tempo, o acampamento saía de algumas centenas de gladiadores para milhares e milhares de pessoas vindas de todo a Península Itálica para se colocar ao comando de Spartacus. As autoridades romanas demoraram a se dar conta da gravidade dos fatos, e mandavam tropas pequenas e sem experiência atacar Spartacus. Uma por uma eram derrotadas.

Apaixonado pela escrava Varínia, jovem que nascera livre mas que fora transformada em escrava ao ver sua aldeia conquistada pelos romanos, Spartacus sonha em libertar todos os escravos de Roma, e isso fica expresso quando um dos revoltosos (Antoninus) recita para os escravos reunidos o poema “Eu volto para casa”, que expressa exatamente o sentimento dos escravos, oriundos de várias regiões do mundo, de acabar com a escravidão e voltar para os seus lares e sua terra.

Com um grande elenco encabeçado por Kirk Douglas, Spartacus é considerado o maior épico do gênero. Em 2004, um novo filme sobre Spartacus foi lançado com o ator Goran Visnjic no papel principal e direção de Robert Dornheln,também baseado no livro homônimo de Howard Fast, Spartacus.

A revolta de Spartacus deu esperança a milhares de homens e mulheres que eram massacrados diariamente por uma ordem social que estabelecia que havia homens superiores, cuja função é mandar, e outros que nasceram para servir e para sofrer. Não à toa juntou os descontentes que vinham de todas as partes de Roma para lutar por liberdade e melhores condições de vida. Seis mil sobreviventes da última batalha de Spartacus são crucificados ao longo da estrada que ia de Cápua a Roma, para dar exemplo àqueles que sonhavam em se rebelar. Mas isso não foi suficiente. Alguns séculos depois, novas revoltas de escravos e camponeses colocam o Império Romano abaixo e acabam com a escravidão.

Yuri Rodrigues

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