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terça-feira, 19 de março de 2024

Uso de agrotóxicos não diminuiu a fome no mundo

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No mundo, uma em cada sete pessoas vai para a cama com fome, (um bilhão entre a população de sete bilhões). Atualmente, o caso mais grave é o do continente África, onde a crise de fome, seca, conflitos e alta dos preços dos alimentos continuam a castigar a região Nordeste do continente, que compreende a Somália, Uganda, Etiópia, Quênia, Djibuti e Eritréia. A crise na Somália já matou 30 mil crianças de fome e já é considerada a pior dos últimos 60 anos.

O modelo de alimentação homogeneizante, global, padronizado ou norte-americano, tem por base alimentos altamente processados, ricos em gorduras, carboidratos, açúcares e sódio. Uma alimentação com essas características apresentam como consequências problemas de saúde como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, etc. A perda de diversidade alimentar na cultura da população ocasiona problemas à saúde, e esse modelo apresenta também implicações ambientais, devido às práticas de agricultura intensiva, mecanizada, com elevada utilização de insumos químicos como agrotóxicos e implicações sociais ocasionadas pela significativa marginalização e empobrecimento dos pequenos produtores rurais.

O Brasil, para garantir o fornecimento de produtos para manter este modelo de alimentação norte-americano elevou o consumo de agrotóxicos. O governo brasileiro potencializou investimentos na monocultura que incentivaram o uso de agrotóxicos nas plantações; garante a isenção fiscal e tributária como parte da política expansionista do agronegócio; concede hoje redução de 60% na alíquota de cobrança do ICMS a todos os agrotóxicos; isenta completamente de IPI, PIS/Pasep e Cofins; etc. Esta política mostra a opção da classe burguesa no Brasil em ser submissa aos países imperialistas e exportadora de matéria prima (A Verdade, nº 134).

Conforme dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2009, o Brasil contava com 2.195 marcas de agrotóxicos registradas, relacionadas a 434 tipos de agrotóxicos. No ano de 2010, foram vendidas 789.974 toneladas, o que representou um valor de 6,8 bilhões de dólares. As dez principais empresas multinacionais responsáveis pela comercialização de quase 80% desses produtos foram: Syngenta (14,0%), Milenia (11,3%), Monsanto (11,1%), Nufarm (8,3%), Dow (7,5%), Bayer (7,1%), Basf (6,0%), Nortox (4,7%), Atanor (4,6%) e DuPont (4,2%). Pode-se verificar que o crescimento das vendas no Brasil foi maior que no mundo, sendo que, desde 2008, nosso país é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, posição antes ocupada pelos Estados Unidos.

O uso de agrotóxicos está dentro de um contexto maior no Brasil, como a questão agrária, onde não se realizou uma reforma para repartir a terra aos camponeses. Inclusive, estudos mostram que a concentração fundiária está crescendo no país. Faz-se uso dos agrotóxicos para garantir a colheita em grandes plantações, aumentando os lucros da burguesia do agronegócio em detrimento de qualquer outra questão como a saúde da população e o meio ambiente.

A representação da burguesia rural no Congresso Nacional é conhecida como Bancada dos Ruralistas e tem vários mecanismos para pressionar o Governo quando vê algum de seus interesses ameaçados, a exemplo da votação na Câmara do Novo Código Florestal (ver A Verdade nº 131). Na luta ideológica justifica o agronegócio como solução para a economia brasileira e que é a exportação de commodities a melhor forma de o Governo garantir o pagamento das suas contas externas.

Contrariando a tese de que o uso dos agrotóxicos seria a saída para alimentar uma população crescente e que iria acabar com a fome no mundo, temos hoje infinitas experiências que mostram ser possível alcançar boas produtividades a baixíssimo custo através de sistemas ecológicos de produção, sem agrotóxicos. Trata-se de sistemas diversificados, de baixo impacto ambiental, capazes de produzir alimentos saudáveis e contribuir para a promoção da segurança alimentar e nutricional, com uma alimentação diversificada e melhor renda para os pequenos agricultores.

O Brasil se sujeita a ter na economia mundial um lugar subalterno e sob o domínio de grandes empresas multinacionais, permitindo qualquer coisa, sem regulação, tudo em nome das exportações e de um crescimento que enriquece meia dúzia de pessoas e leva milhares de outras, na zona rural e urbana, para a miséria.

Hinamar Araújo de Medeiros, agrônomo

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