Perdida por mais de 70 anos, uma nova ópera do compositor soviético Dmitri Shostakovich, descoberta por sua viúva em meio a inúmeros outros documentos, foi apresentada em dezembro de 2011 pela primeira vez na história.
A ópera, chamada “Orango”, foi encomendada a Shostakovich em 1932 pelo Teatro Bolshoi, com o objetivo de comemorar os 15 anos da Revolução Russa.
Irina Antonovna Shostakovich, terceira esposa e viúva do compositor, descobriu os papeis em 2004, “muda e com as mãos e as pernas tremendo”, conforme relatou, e então contratou o compositor britânico Gerard McBurney, da Orquestra Sinfônica de Chicago, para finalizar a obra a partir de rascunhos de piano que sobreviveram.
A obra conta a história de um ser moralmente degenerado, e é uma crítica brutal ao mundo capitalista. Orango, também chamado “Jean Or”, é um homem-macaco híbrido, resultado de uma experiência genética, que se torna um violento anticomunista e dono de um jornal através de uma combinação de jornalismo de segunda categoria, fraudes na bolsa de valores e chantagens inescrupulosas – o estereótipo do burguês corrupto. Mas então sua humanidade corrompida é revertida para sua natureza animal, e ele é vendido a um circo e colocado numa jaula, sendo apresentado a todos como advertência.
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Segundo Gerard, nesta peça revela-se “o jovem Shostakovich, o rebelde, o sátiro, o comediante, e eu achei fascinante este seu lado”.
Uma pérola entre todos os outros documentos encontrados, Orango foi uma grande surpresa para inúmeros estudiosos que sempre duvidaram de sua existência, e até mesmo para a viúva do composistor, pois Shostakovich, segundo ela própria afirmou ao jornal Los Angeles Times, nunca nem ao menos mencionou esta obra em sua presença.
Orango reaparece, depois de tantas décadas, ecoando um passado aberto, como vestígio daquele grandioso período de florescimento das artes e da cultura soviética durante a contrução da sociedade socialista e que, como tal, urge ser resgatado.
Glauber Ataide