O nome da droga é crack. Produzida com os restos da pasta-base da cocaína (derivada da folha da coca) adicionada ao bicarbonato de sódio além de uma série de outros elementos químicos, o crack é levado ao forno e se transforma em uma pedra que torna viciadas entre 60% e 80% das pessoas que a fumam. No Brasil de hoje, o crack e suas cracolândias são a expressão concreta de um país marcado por profundas injustiças sociais.
Foi-se o tempo em que o crack era um problema restrito aos grandes centros urbanos. O número de viciados cresce em todo o País desde o início deste século. O que não cresce, no entanto, é o número de centros de tratamento e recuperação para viciados, que não contam com investimentos do poder público. Hoje, não passam de 400 as vagas para internação de dependentes em todo o Estado de São Paulo e é uma única a clínica do Serviço de Atenção Integral ao Dependente – Said.
A produção e a venda do crack, assim como a de qualquer droga lícita ou ílicita, têm por objetivo o lucro. O vício do crack não é transmitido pelo ar, como nas epidemias, mas é vendido e estimulado por indivíduos que lucram milhões com esse negócio de escala internacional. O tráfico é, portanto, uma empresa capitalista.
Não por acaso, foi exatamente no coração do capitalismo mundial, os EUA, que o crack nasceu. No início da década de 80, o tráfico resolveu vender uma droga mais pesada para os mais pobres, já que a cocaína era considerada uma droga cara, restrita aos ricos. A distribuição de drogas altamente viciantes e destruidoras da consciência e da saúde nas periferias cumpre o duplo objetivo de amortecer as classes populares e de movimentar o mercado e o lucro com a droga.
Desde o início de janeiro, o governo de São Paulo, do PSDB, vem adotando a repressão aos usuários como forma de combater as drogas. No dia 3 de janeiro foi desatada uma operação baseada em uma doutrina denominada dor e sofrimento que, nas palavras do governador, acabará com a cracolândia em São Paulo.
O próprio governador admitiu que a cracolândia paulistana chega a reunir mais de 1.000 dependentes por dia nas ruas do Centro de São Paulo. A atitude de reprimir com violência os usuários, passando a impressão de que o governo está fazendo alguma coisa, não passa de um objetivo midiático em pleno ano eleitoral.
A busca do lucro privado dos traficantes, aliada à falta de perspectivas do povo, é o motivo que faz o mercado da droga sempre crescer em lucratividade e extensão em quase todos os países capitalistas do mundo, apesar de todo o discurso de guerra às drogas.
No momento atual, é necessária uma política de investimentos em saúde pública e redução de danos que aponte um caminho de saída para os dependentes. O governo do PSDB, no entanto, só entende de polícia, repressão, bombas e cassetetes, como provaram as ações na USP, na comunidade do Pinheirinho e no Centro de São Paulo. Já os verdadeiros financiadores da droga e traficantes internacionais, vestindo terno e gravata e frequentando os palácios, seguem impunes.
Redação São Paulo