Novo censo divulgado hoje revela a Índia como um país de grandes contradições, típicas do modo de produção capitalista. Apesar de grande parte da população ter acesso às últimas inovações tecnológicas, um número ainda maior não dispõe nem mesmo dos serviços mais rudimentares de saneamento básico.
A pesquisa revelou que de um total de 246,6 milhões de residências, apenas 46,9% possuem pelo menos um banheiro. Do restante, 3,2% usam banheiros públicos, e 49,8% fazem suas necessidades em locais abertos.
Contrastando gritantemente com esse quadro, 63,2% das residências possuem linha telefônica, sendo 53,2% de telefones celulares.
Os dados também mostram que apenas 32% das residências tem água potável, e 17% ainda precisam buscar água de uma fonte que fica a pelo menos 500 metros em áreas rurais e 100 metros em áreas urbanas.
Ao divulgar os dados, o comissário do censo, C. Chandramouli, afirmou que a falta de saneamento básico “continua a ser uma grande preocupação para o país”. Mas “questões culturais e tradições”, afirmou, “e a falta de acesso à educação parecem ser as principais razões para essas práticas anti-higiênicas.”
No entanto, os dados mostram enormes déficits em áreas que não tem nada a ver com práticas culturais ou falta de educação. Por exemplo, dois terços das residências continuam a usar lenha, restos de plantações, estrume de vacas ou carvão para cozinhar – colocando as mulheres em situações de risco à sua saúde e de extrema dureza nos afazeres domésticos.
Atualmente cerca de 70% das residências abrigam apenas uma família – situação bem diferente de uma geração atrás, quando várias famílias habitavam uma só casa -, mas 37,1% dessas ainda vivem em um único quarto.
O Livemint, jornal burguês de Wall Street, afirmou cinicamente que este censo mostra uma melhora nas condições de vida da população, e que a mobilidade social no país está criando as bases para um boom de novos consumidores.
Mas a verdade é que este censo joga luz sobre alguns determinantes da grande greve geral de dimensões inauditas pela qual o país passou recentemente. Apesar dos ideólogos da burguesia louvarem o reino da mercadoria com seu “acesso ao crédito” (leia-se “acesso ao endividamento”) e o “aquecimento da economia” vendendo bugigangas ao povo, os indianos vem mostrando que não é esse tipo de sociedade que querem.
Glauber Ataide