Ato marca os 50 anos da morte de João Pedro Teixeira

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Centenas de pessoas homenagearam João Pedro Teixeira

Só um grande homem, só uma grande causa, só uma grande batalha por vencer pode permanecer, por mais de 50 anos, mobilizando pessoas e levando-as a se reunir, a sair às ruas e a celebrar. É o caso de João Pedro Teixeira (Veja A Verdade nº 7), fundador e líder das Ligas Camponesas de Sapé, pequeno município localizado entre a Zona da Mata e o Brejo do Estado da Paraíba.

No dia 2 de abril, completou-se o cinquentenário do covarde assassinato do líder camponês, à beira da estrada do distrito de Café do Vento, quando regressava da capital, João Pessoa, distante cerca de 60 km do Sítio Barra de Antas, onde vivia.

Nessa data, a cidade de Sapé reviveu suas tradições de luta e viu cerca de mil pessoas caminharem desde o Cemitério Municipal até a Praça Central para homenagear não só João Pedro, mas também todos aqueles que encabeçaram as Ligas Camponesas e tombaram na luta pela reforma agrária como “Nego Fuba” (João Alfredo Dias) e “Pedro Fazendeiro” (Pedro Inácio de Araújo).

Pela manhã, participaram do ato centenas de estudantes da rede pública de Sapé e dezenas de entidades e movimentos sociais de todo o Estado da Paraíba, e até de Pernambuco, ligados ao setor camponês, sindical, estudantil, dos direitos humanos, da Igreja Católica, ex-parlamentares, partidos políticos, secretarias de governo, universidades, etc. Destaque especial para a memória viva das Ligas nas figuras de dona Elizabeth Teixeira, Assis Lemos (professor universitário aposentado, deputado estadual cassado e ex-preso político) e Agassiz Almeida (advogado, deputado estadual cassado e ex-preso político). Ainda estiveram presentes o ex-arcebispo da Paraíba, dom José Maria Pires, e João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional do MST. Em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das principais entidades organizadoras do evento, falou o padre Hermínio Canova, pároco de Barra de Antas: “Não assassinaram João Pedro, e sim plantaram uma semente. Ele era cristão de religião e um comunista de coração, um comunista de verdade”.
Já Elizabeth Teixeira emocionou a todos em praça pública ao rememorar os momentos finais de seu companheiro: “Marcharei na tua luta, foi o que eu disse ao meu João Pedro quando peguei ele morto nos meus braços. Ele era um homem muito bom. Todos os dias, antes de sair de casa,  ele beijava nossos 11 filhinhos, me beijava e dizia: ‘vou indo, mas não sei se tenho o direito de voltar’. Todo mundo sabia que estavam apenas esperando a hora certa de matar João Pedro”. Elizabeth, até então, era apenas dona de casa e esposa do líder camponês, mas jurou ao marido morto continuar sua trajetória e passou a comandar as Ligas Camponesas de Sapé. Hoje, aos 83 anos, vive em João Pessoa.
O ato foi animado a todo instante por músicas combativas em homenagem a Teixeira, e ainda foram executadas A Internacional Comunista e o Hino do Camponês, composição com letra de Francisco Julião (ex-deputado estadual e dirigente das Ligas Camponesas de Pernambuco) e música do maestro Geraldo Menucci, que veio do Recife para simbolicamente reger a execução do hino durante o ato.

À tarde, os manifestantes se juntaram aos moradores do Sítio Barra de Antas, onde foi inaugurado o Memorial das Ligas Camponesas, justamente na casa em que João Pedro viveu com a família.

O descerramento da placa e a abertura do Memorial ao público foram feitos com a participação do governador Ricardo Coutinho (PSB), uma vez que o Governo Estadual desapropriou o terreno de seu último dono, restaurou a casa e preparou o ambiente e o acervo para o Memorial.
Um grupo de militantes do PCR se fez presente desde cedo em Sapé e, durante todo o dia, mesmo debaixo da chuva que caiu diversas vezes, manteve erguida bem alto a bandeira do Partido, a bandeira do socialismo, realizando uma brigada do jornal A Verdade com cerca de 50 exemplares difundidos, particularmente da edição especial Heróis do Povo Brasileiro – nº 1, que traz um relato da vida e da luta de Pedro Teixeira. Para João Batista, natural de Sapé e membro da Coordenação do MLB na Paraíba, “este foi um dia muito especial para todos nós que estivemos aqui. Nossa cidade tem uma grande história de lutas, e João Pedro é a maior referência. Devemos a ele todo o respeito e juramos também, mais uma vez, permanecer trilhando o seu caminho”.

Viva João Pedro Teixeira!
Viva as Ligas Camponesas!

Rafael Freire, João Pessoa