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sábado, 5 de outubro de 2024

Operários cruzam os braços em Belo Monte

Os operários da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte realizam duas greves em apenas um mês. No dia 29 de março, revoltados com a morte do operador de motosserra Francisco Orlando Rodrigo Lopes, 34 anos, atropelado por uma retroescavadeira, decidiram paralisar suas atividades contra as péssimas condições de trabalho.

Falta água e comida de qualidade, e as péssimas condições de alojamento fazem com que os operários sejam vítimas frequentes de várias doenças como dengue, que chega a levar 30 casos de suspeita por dia ao único hospital de Altamira.
Desde o início de março, a insatisfação era grande devido a um desconto que atingiu até R$ 600 no contracheque dos trabalhadores por conta de cortes nas horas in intinere (correspondentes ao deslocamento dos trabalhadores até os canteiros de obra, consideradas como horas de trabalho). Os operários também reclamam da forma como são tratados. “A greve ia estourar no começo de março”, relata um trabalhador. “Foi quando a gente recebeu o salário [no início do mês] que a gente viu que cortaram as horas in itinere”. O pagamento ocorreu numa discoteca local. “Tratam a gente que nem bicho… Ficam 5 mil trabalhadores numa fila enorme, entra de seis em seis [no escritório provisório]. É muito inseguro, eles dão o dinheiro na nossa mão. Conheço três que foram roubados logo que saíram de lá”, explica o trabalhador ao jornalista do Movimento Xingu Vivo, Ruy Sposati (único jornalista presente em Altamira).

Os operários reivindicam equiparação salarial, redução do intervalo da baixada (visita à família, quando são de outras regiões) de seis para três meses, melhores condições na comida e água, o fim do desvio de função, baixada para ajudantes de produção (cargo mais baixo na hierarquia da obra), capacitação para funcionários, plano de saúde, aumento do cartão alimentação (hoje, em cerca de R$ 90), aumento de salário, pagamento de horas extras aos sábados, transporte digno, a “troca” do sindicato representativo e o direito à baixada para os trabalhadores que decidirem, por conta própria, morar fora dos canteiros de obras.

Demissões de grevistas gera nova greve

Para enfraquecer a luta dos trabalhadores, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) tratou de demitir as principais lideranças do movimento, um total de 60 trabalhadores. Além disso, não cumpriu com o prazo de resposta firmado com a representação do Ministério do Trabalho e ainda se recusou a diminuir o tempo de baixada, uma das principais reivindicações dos trabalhadores e motivo de grande revolta nos canteiros de obras, já que a grande maioria dos trabalhadores são de estados vizinhos do Pará como Maranhão e Piauí. Assim, não restou aos trabalhadores outra alternativa, a não ser iniciarem outra greve, que teve início na manhã no dia 23 de abril.

A construção da usina de Belo Monte está orçada em R$ 26 bilhões, sendo que a estimativa é de que, até o final da obra, sejam utilizados R$ 30 bilhões. 80% deste montante é financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo dinheiro advém em grande parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), com um prazo de 30 anos para ser pago.

Todo o recurso financiado é repassado a grandes empresas como a Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Vale, OAS, Light, CEMIG, entre outras que, unidas no Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), administram toda a obra.

Em outras palavras, o dinheiro dos nossos impostos é retirado para financiar uma obra de quase R$ 30 bilhões a grandes empresas capitalistas que terão 30 anos para devolver este recurso a juros baixíssimos. Para aumentar os seus vantajosos lucros as empresas consorciadas no CCBM exploram como podem a força de trabalho de milhares de trabalhadores, que saem de outros estados em direção ao Pará em busca de melhores condições de vida.

Entretanto, o que encontram é uma cidade que abriga um verdadeiro monstro, que não respeita as mínimas condições de uma vida digna para os trabalhadores. A eles só resta a organização e a luta para enfrentar esta situação.

Emerson Lira, Belém

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