UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 21 de dezembro de 2024

Pesquisa retrata universitário brasileiro

Outros Artigos

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) publicou o relatório Perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das universidades federais brasileiras, encomendado ao Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) com o objetivo de mapear a vida social, econômica e cultural dos estudantes de graduação presencial das universidades federais brasileiras. A coleta dos dados ocorreu de 11 de outubro a 17 de dezembro de 2010.

Edward Brasil, presidente da Andifes na gestão 2010/2011, explica que “a pesquisa tem por fim conhecer o nosso alunado e buscar indicadores para formular políticas de equidade, acesso e assistência estudantil, essenciais no contexto da dissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, e assim redobrar esforços para garantir a permanência de todos os estudantes, viabilizando a conclusão de seus cursos agindo preventivamente nas situações de retenção e evasão”.

Nossas universidades federais são compostas por 75% de estudantes jovens na faixa etária de até 24 anos e 8,7% são negros; 43,7% pertencem às classes C, D e E, e este percentual cresce na região Norte (69%) e Nordeste (52%). Já os estudantes da classe A perfazem 15%, com maior concentração na região Centro-Oeste (22%). Em contrapartida, a região Norte tem apenas 6,3% de estudantes da classe A, dado que derruba o mito de que nas universidades federais só há ricos e reforça a necessidade de as instituições garantirem uma política de assistência estudantil que garanta aos estudantes das classes C, D e E poder se manter na universidade.

Os estudantes são, em sua maioria, mulheres (53,5%), e a Região Norte tem a maior percentagem (58,2%). Há um elevado percentual de estudantes com filhos que utilizam as creches universitárias (43,4%). Ao mesmo tempo, dos trancamentos de matrícula por licença-maternidade as mães oriundas das classes C, D e E são a grande maioria, com 68%, ou seja, muitas elas abandonam o período por não terem onde deixar seus filhos, o que demonstra a importância de universalizar o acesso à creche.

Outro mito, aquele segundo o qual a grande maioria dos estudantes vão de carro para a aula, também não é verdade: são apenas 21,62%. Em contrapartida, cresceu para 18% o número de estudantes que se deslocam a pé, de bicicleta ou de carona, e, ainda assim, a maior parte, 56,5% utiliza transporte coletivo.

 O relatório mostra como é deficiente o investimento em programas de assistência estudantil, numa realidade em que metade dos estudantes são das classes C, D e E, e apenas 15% utilizam os restaurantes universitários; 2,5% estão em residências universitárias (com destaque para a Região Norte, com apenas 0,63%); e não chega a 11% índice dos estudantes atendidos pelos programas de bolsa permanência. O resultado é que 15% dos trancamentos de matrícula são por motivos financeiros.

Uma questão que merece destaque é a situação de saúde física e mental. Um terço dos estudantes não pratica nenhuma atividade física e quase metade (47,7%) relata ter vivenciado crise emocional nos últimos 12 meses. Os motivos levantados são diversos: por relações amorosas e conjugais (41%), assédio moral (25%) e  a interferência por dificuldades financeiras foi manifestada por 52%, por carga excessiva de trabalho (37%) e – alarmante – é que, por violência física ou sexual, foram relatados 24% dos casos.

Essas dificuldades afetam o desempenho acadêmico em proporções diferentes: ansiedade (70%), insônia (44%), sensação de desamparo/desespero/desesperança (36%), sensação desatenção/desorientação/confusão mental (31%), depressão (22%),medo/pânico (14%) e problemas alimentares (12%).

Os prejuízos decorrentes de problemas emocionais foram: falta de motivação para estudar ou dificuldade de concentração (61%), baixo desempenho acadêmico (48%), reprovações (31%), trancamentos de disciplinas (16%), mudança de curso (6%), risco de ser jubilado (6%) e trancamento geral (5%).

O relatório demonstra um retrato de uma universidade brasileira com muitos desafios, pois só tem 15% dos seus jovens no ensino superior, e, destes, 85% estão nas instituições de ensino particular. A pequena parcela que conseguiu ingressar nas universidades públicas passa por um grande desafio de se manter nelas, pois ainda é insuficiente a política de assistência estudantil oferecida.

A pesquisa reforça a necessidade de fortalecermos a organização dos estudantes e da sociedade para que possamos reverter este quadro. Neste sentido, o Seminário Nacional de Universidade Brasileira, realizado anualmente pela União da Juventude Rebelião e DCEs, cumprem um importante papel de fomentar o debate sobre nossa universidade.

Alexandre Ferreira, Coordenação Nacional da UJR

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes