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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

As gaiolas da China capitalista

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Apesar de alguns revisionistas seguirem afirmando que a China é um país socialista, os fatos insistem em demonstrar que a economia chinesa, em que pese ainda ter um grande número de empresas e bancos estatais, é, de fato, uma economia capitalista e seus governantes adotam cada vez mais políticas de exclusão dos pobres, o que é uma característica dos governos capitalistas.

Para garantir o êxito de uma feira religiosa que ocorreu em 20 de setembro, as autoridades da Província de Jiangxi, no sul da China, inspiradas no pensamento de Deng Xiaoping e no filme norte-americano Planeta dos Macacos, decidiram colocar os mendigos da cidade em gaiolas. Os que não aceitaram a humilhação foram levados para um local desconhecido.

Os responsáveis da feira justificaram a medida da seguinte forma: “Esse ano nós decidimos que não queríamos mendigos vagando pela feira, constrangendo nossos visitantes e estragando o evento.” Outro organizador explicou assim o uso das gaiolas: “Não tivemos escolha a não ser bani-los do local. Vimos nas gaiolas uma boa solução para todos. As pessoas ainda podem dar dinheiro, mas não são mais assediadas e seguidas no festival, onde estão passando um dia em família. Os mendigos estão “confortáveis” em suas gaiolas. As pessoas dão comida e água como presentes. De certa maneira, é melhor eles estarem ali do que ter que encontrar um lugar na rua.”

Semelhantes às usadas em zoológicos, as gaiolas são baixas o que obriga os adultos a ficarem sentados, pois não cabem em pé. Apesar de serem “livres” para sair das gaiolas, os mendigos que decidem sair são “banidos da área do festival e obrigados até mesmo a deixar a cidade”.

Acontece que os mendigos não surgiram do nada. Eles são frutos de uma política que tirou a terra dos camponeses e a entregou nas mãos de grandes companhias estrangeiras que foram instaladas na China. Eles foram gerados também pelas reformas econômicas iniciadas na década de 70 sob o comando de Deng Xiaoping, que criou as Zonas Econômicas Especiais, promoveu ampla abertura para o capital estrangeiro e estimulou o crescimento da burguesia nacional. Tais reformas expulsaram milhões de camponeses do campo, deixando-os desempregados, e privatizou a terra nas cidades, o que levou milhares de famílias serem despejadas de suas casas e se tornarem moradores de rua e sem emprego,  transformando-se em mendigos.

Mas enquanto a miséria cresce na China e torna-se impossível escondê-la, a riqueza do povo chinês vai para o exterior ou para mãos privadas. O jornal New York Times revelou em outubro que os familiares do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, que terminará o mandato em novembro, têm uma fortuna de US$ 2,7 bilhões. Segundo o jornal, os nomes de parentes de Wen Jiabao aparecem em vários documentos de empresas oficialmente chefiadas por amigos, colegas de trabalho ou parceiros de negócios. Entre os investimentos da família de Wen estão um condomínio em Pequim, uma fábrica de pneus, a empreiteira que construiu o Estádio Ninho de Pássaro para a Olimpíada de 2008 e a Ping An Seguros, gigante mundial na área de serviços financeiros. Os familiares do premiê têm ainda participações em bancos, teles, projetos de infraestrutura e resorts para turistas e offshores abertas em paraísos fiscais. O jornal revela ainda que as empresas dos parentes de Wen tiveram apoio financeiro de estatais como a China Mobile, uma das maiores teles do país. Aliás, grupos privados receberem apoio do estado para impulsionar seus negócios ou para evitar uma falência é também uma prática bastante comum no capitalismo. Como se vê, a família de Wen Jiabao cumpriu à risca o pensamento do líder Deng: “ser rico é glorioso”.

Entretanto, para enganar as massas trabalhadoras do país, o governo chinês excluiu em outubro, da Assembleia Nacional Popular (ANP) e do Partido Comunista Chinês (PCC), o dirigente Bo Xilai. Bo Xilai deve responder na Justiça por acusações de corrupção generalizada quando administrava a Província de Chongqing e de ter sido cúmplice de sua mulher Gu Kailai na morte de um empresário britânico.

Porém, a classe operaria chinesa não está alheia a tudo isso. Pelo contrário, cresce o número de greves e de manifestações, o que tem aumentado em muito a dor de cabeça dos governantes.

Em 6 de outubro, milhares de trabalhadores da Foxconn, que fabrica componentes para o iFhone 5, da Apple, entraram em greve contra os baixos salários, pela diminuição da jornada de trabalho e exigindo melhores condições de trabalho. A Foxconn é a maior fabricante mundial de componentes para computadores, atuando na montagem de produtos para Apple, Sony, Intel e Nokia, entre outras empresas e suas instalações na China empregam até 1,1 milhão de trabalhadores.

Em 15 de outubro, os operários da fábrica Henan Xinfei Electric Co. Ltd. decepcionados com os salários baixos e após realizar vários dias de greve e manifestações na cidade de Xinxiang, receberam aumento no salário mensal de 300 yuans (US$ 48) a partir de outubro e outro aumento de 200 yuans a partir do início de 2013. O salário mensal de um trabalhador da Xinfei é de cerca de 1.200 yuans (US$ 184,6), menor que o salário médio de um trabalhador da cidade, que é de 2.160 yuans (US$ 332,3). A empresa também prometeu pagar adicionais de trabalho para condições de altas temperaturas ou horas extras.

Em setembro, em outra fábrica da Foxconn no norte da China, cinco mil policiais foram destacados para reprimir uma greve de 79 mil operários após o suicídio de um trabalhador.

O fato é que o “socialismo de mercado” chinês nada tem de socialismo; é puro capitalismo. Significa apropriação privada das riquezas produzidas pelos trabalhadores e, em decorrência, a exploração e o empobrecimento do povo e o enriquecimento de uma minoria com o apoio do Estado. Com efeito, de acordo com levantamento da Pesquisa Financeira Domiciliar da China, os 10% domicílios chineses mais ricos têm 57% da renda e 85% de toda a riqueza do país.

Os trabalhadores chineses levaram milhares de anos para derrubar as muralhas da opressão, da exploração e da intervenção estrangeira. Conseguiram em 1949 com o triunfo da Revolução Popular da China. Dessa vez, bastarão algumas décadas para enterrar e sepultar corretamente a burguesia e seu modo de produção capitalista e erguer uma sociedade fraterna, humana e livre, um verdadeiro socialismo.

Lula Falcão,
membro do comitê central do PCR

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