No dia 14 de novembro, o Velho Continente parou. Convocada pelas principais entidades sindicais e partidos políticos de esquerda, a greve geral paralisou as atividades laborais em vários setores da indústria, nos serviços e nos mercados de alimentos, em países como Espanha, Portugal, Grécia, Itália, Chipre e Malta. Em outros países da região, como França, Bélgica e Alemanha, houve manifestações de apoio e solidariedade, com paralisações pontuais. Os protestos que tomaram as ruas das principais cidades europeias tiveram como mote a luta contra a política do capitalismo mundial de jogar nas costas da classe trabalhadora o ônus da crise econômica do capital, que, desde 2008, leva ao sofrimento milhões de trabalhadores em todo o mundo. A luta contra a retirada de direitos, aumento de impostos, corte de gastos e de investimentos nos serviços públicos, unificou o movimento da classeem toda Zonado Euro, e atingiu 23 países.
O “Dia Europeu de Ação e Solidariedade”, como foi batizada a greve geral, unificou pela primeira vez países da Península Ibérica, que somaram esforços e construíram um movimento que ficará na história e trará frutos para a luta da classe operária contra a exploração capitalista. Cada vez mais, os trabalhadores se organizam para derrotar a política que pune aposentados, servidores públicos, mulheres e jovens vítimas do aumento da recessão e do desemprego.
Na Espanha, país que vive o flagelo de enfrentar 25% de desemprego, ocorreram manifestações de rua lideradas pelas centrais sindicais União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Comissões Operárias (CCOO), reprimidas pela violência covarde da Polícia, deixando um saldo de 34 feridos e 81 presos. Os manifestantes denunciavam o Governo espanhol por salvar bancos com dinheiro público, enquanto os trabalhadores sofrem com a política de “austeridade”, que deteriora a vida daqueles que constroem as riquezas dos países.
Os espanhóis se indignaram com o triste fato ocorrido com uma mutuária, desempregada, que se suicidou ao ser despejada de sua casa por não ter mais condições de pagar a hipoteca. A greve no setor energético espanhol mobilizou cinco milhões de trabalhadores, fazendo com que o consumo de energia caísse 11%.
Em nota, o Comitê Central do PCE (m-l) – Partido Comunista da Espanha (marxista-leninista) – ressalta o ambiente de combatividade que tomou conta das manifestações populares, principalmente em Madri e Barcelona, onde milhões ocuparam as praças e ruas, com a participação fundamental dos militantes do partido e da JCE (m-l), defendendo a unidade da classe e a necessidade de se levar essa unidade ao âmbito político “para construir uma frente capaz de dar um sentido geral à batalha travada”. O documento do PCE (m-l) também destaca a participação de pequenos empresários e comerciantes nesse dia internacional de luta contra a política capitalista de “austeridade”, que só tem desgastado as condições de vida do povo trabalhador. Da mesma forma, a Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxista-Leninistas (CIPOML) – em nota – convoca os trabalhadores a unirem-se em uma grande frente de luta contra a ofensiva capitalista, a reação política e as ameaças de guerra imperialista. “Unamo-nos em oposição ao saque dos recursos naturais, por uma ruptura revolucionária com o neoliberalismo e o social-liberalismo, com o sistema que engendra a crise”.
Em Portugal, os trabalhadores realizaram sua terceira greve geral deste ano. O setor de transportes foi um dos mais atingidos. Trabalhadores do metrô, dos trens e empresas aéreas como a TAP cruzaram os braços. A Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) informou que 90% dos serviços estavam com suas atividades paradas. O país alcançou o recorde de 15,8% de desemprego.
Na Grécia, onde a produção econômica encolheu 7,2% no último trimestre, a greve geral foi organizada pelas Confederações Sindicais GSEE (setor privado) e Adedy (setor público) e o Sindicato de Trabalhadores Municipais, e duas mil escolas pararam em repúdio aos cortes de verbas para a educação. O país já vai para o sexto ano de recessão.
As centrais sindicais brasileiras, CUT, CST-Conlutas, CTB, UGT e NCST entregaram documento de apoio ao Dia Europeu de Ação e Solidariedade, no Consulado da Espanha, afirmando que “a crise do capitalismo não pode ser paga pelos trabalhadores, independentemente de sua nacionalidade”.
As avaliações feitas sobre as vitoriosas mobilizações da greve geral europeia do dia 14 de novembro deixam claro que os trabalhadores não estão dispostos a continuar vendo seus direitos, conquistados com muita luta e sacrifícios, serem surrupiados para garantir os lucros da classe capitalista. Em um futuro próximo, serão necessárias novas mobilizações que conterão novas exigências e objetivos, orientadas numa direção comum de ruptura com o sistema capitalista, no sentido da superação desse modelo que cada vez mais só tem a oferecer à humanidade guerras, miséria, fome e desemprego.
Victor Madeira – Coordenação Nacional do MLC