Manifestações no Cairo, Alexandria e em outras cidades egípcias marcaram, no último dia 25 de janeiro, o segundo aniversário do levante popular que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak. Retomando a palavra de ordem de “Pão, Liberdade e Justiça Social” utilizada dois anos atrás, os manifestantes exigiam uma “nova revolução” e a saída do atual presidente, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, acusado de trair os ideais que inspiraram a revolta em 2011. “Tomem as praças para cobrar as reivindicações da revolução”, dizia a convocatória dos protestos, que deixaram um saldo de mais de 50 mortos e 530 feridos após a repressão policial ordenada pelo governo.
No dia seguinte, novos protestos aconteceram na cidade de Port Said, depois que 21 pessoas foram condenadas à morte pelos confrontos que tiraram a vida de 74 torcedores durante uma partida de futebol entre as equipes do Al Ahly e do Al Masry, no ano passado. Dessa vez, 30 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas. A torcida organizada do Al Ahly afirma que os policais responsáveis pela segurança da partida não foram punidos e que apenas torcedores foram condenados. No próximo dia 9 de março, a justiça egípcia divulgará a sentença para os outros 52 acusados.
Crise e revolta
Esses protestos, aparentemente motivados por causas diferentes, são alimentados pelo sentimento de insatisfação que cresce entre a população em relação aos rumos tomados pelo atual governo. De fato, passados dois anos das jornadas que derrubaram a ditadura de Mubarak, o país ainda vive uma grave crise econômica, sofre com a fome e o desemprego, o exército continua exercendo forte influência nas decisões do governo e a repressão ao povo persiste.
Nos últimos meses diversas medidas do governo têm aumentado o poder do presidente e pavimentado o caminho para uma nova ditadura. A mais recente dessas medidas foi adotada no dia 27 de janeiro, quando o presidente Mohamed Mursi decretou estado de emergência nas cidades estratégicas de Porto Said, Ismailia e Port Suez, localizadas ao longo do canal de Suez, e ordenou toque de recolher noturno por 30 dias, dando ao exército poder de polícia, após protestos que deixaram cerca de 40 mortos e quase 600 feridos.
Além disso, o chefe do estado-maior das forças armadas do Egito, Abdel Fattah al Sisi, tem dado declarações nas quais afirma que “os desafios econômicos, políticos e sociais que o Egito enfrenta representam uma verdadeira ameaça à segurança do país e à coesão do Estado”. Disse mais que “a continuação do conflito entre as diferentes forças políticas e suas diferenças em relação ao comando do país podem levar ao colapso do Estado e ameaçam gerações futuras. A continuação desse cenário sem ser resolvido conduzirá a consequências graves que influenciarão a estabilidade”. O militar também defendeu a ideia de que o exército continue a controlar o país e que as forças armadas sejam “o bloco coeso e sólido” da nação.
A retomada das grandes manifestações por mudanças verdadeiras no Egito revela a disposição do povo de fazer avançarem as conquistas. Iniciaram um processo de construção de uma nova história e, agora, querem chegar até o fim, até a mudança do regime de opressão e sua libertação definitiva.
Da Redação