“Vamos lutar contra a privatização e conquistar melhores salários”

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Wilton MaiaO Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado da Paraíba (Stiupb) foi fundado há quatro décadas e, no final de 2010, a chapa Luta de Classes, encabeçada por Wilton Maia, militante do MLC e do PCR, venceu a eleição para a diretoria do sindicato numa disputa bastante acirrada com grupos que estavam à frente da entidade havia muitos anos. Com sede na cidade de Campina Grande, a entidade representa mais sete mil trabalhadores em 198 municípios da Paraíba, divididos entre empresas do setor de água, esgotos, energia e gás. A Verdade entrevistou Wilton Maia sobre a atual realidade da categoria e os novos desafios da próxima gestão.

Que balanço político é possível fazer entre o que era antes o sindicato e o que ele é hoje?

Wilton MaiaAntes de assumirmos o sindicato, havia muita desconfiança e isolamento sindical e grande desorganização da categoria, tudo isso de maneira propositada, para que o sindicato sempre estivesse de acordo com os interesses das empresas. Com a vitória da nossa chapa, organizada pelo Movimento Luta de Classes, já nos primeiros três meses realizamos uma greve na Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, a Cagepa, reivindicando melhores condições de trabalho, equipamentos de proteção individual, demissão dos comissionados e contratação dos concursados, aumento salarial etc. Esta luta foi muito importante, pois unificou os trabalhadores contra o descaso da empresa. Toda esta movimentação resultou num salto na consciência de classe da categoria, que agora confia plenamente na sua força.

No setor de energia da Paraíba havia duas empresas públicas, a Celb e Saelpa, privatizadas em 1999 e 2001, respectivamente, pelos ex-governadores Cássio Cunha Lima (PSDB) e José Maranhão (PMDB). Qual é hoje a realidade dessas empresas?

O processo de privatização de serviços de fornecimento de eletricidade fez com que as tarifas aumentassem e a qualidade dos serviços diminuísse. Surgem muitas reclamações por parte da população, que paga uma das tarifas mais caras do Nordeste, e isto porque a Energisa, que distribui a energia no Estado, é uma das empresas com melhor rendimento financeiro no  mercado, pagando aos seus funcionários um dos menores salários. No ano passado, após um trabalho de base permanente, conseguimos realizar várias paralisações localizadas e conquistamos definitivamente a confiança dos companheiros e companheiras. Hoje nossa principal luta é conseguir a igualdade de direitos entre os eletricitários de todo o Estado, visto que a empresa possui uma subdivisão em relação à sede da Capital e à sede de Campina Grande e, portanto, celebra dois acordos coletivos diferenciados, gerando distorções absurdas mesmo entre trabalhadores que desenvolvem suas tarefas profissionais numa mesma cidade.

E a situação da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, a Cagepa?

Bem, inicialmente, cabe ressaltar que nosso sindicato tem feito a denúncia de que o descaso com a Cagepa é proposital, visando à privatização da empresa. As instalações físicas e as ferramentas, máquinas, automóveis estão sucateados e a dignidade de seus funcionários está ameaçada. Durante esses dois anos de gestão, fomos às ruas várias vezes, inclusive realizando duas greves gerais, sendo uma em 2011, de quatro dias, e a outra em 2012, que se estendeu por três semanas, e conseguimos até mesmo paralisar setores estratégicos da empresa na capital, João Pessoa, onde a base é representada por outro sindicato. Agora, corre nos bastidores políticos que o Governo da Paraíba, copiando a iniciativa do Governo de Pernambuco, deseja realizar uma parceria público-privada no setor de esgotos, exatamente nas principais cidades do Estado. Já nos pronunciamos abertamente contra essa ideia, uma vez que representa uma privatização “por dentro”, que pretende ser mais silenciosa, porém com as mesmas consequências, do que uma privatização aberta, através de leilão, como a por que passamos no setor de energia. Além do mais, a PPP significaria objetivamente milhares de companheiros e companheiras demitidos e a perda de um patrimônio de toda a população paraibana. Se esse projeto for de fato apresentado, vamos realizar uma grande jornada de lutas e não vamos permitir que ele saia do papel.

Por fim, que mensagem você deixa para os companheiros e companheiras de outras categorias que leem o jornal A Verdade?

Com a consolidação do Movimento Luta de Classes em diversas categorias de vários Estados, estamos construindo uma real alternativa para a classe operária brasileira. Temos desenvolvido lutas e conquistado avanços, e isso tem sido visto e comentado por outros movimentos, sindicatos, partidos políticos e centrais sindicais. Tenho muita certeza de que estamos no caminho certo, pois, muito além de sermos um movimento combativo, somos um movimento revolucionário,  que tem como objetivo final a construção do socialismo.

Rafael Freire, João Pessoa