O Parlamento do Chipre rejeitou por grande maioria a fórmula de resgate que a Comissão Europeia e o FMI pretendiam impôr ao país e que passava pela apropriação indevida de partes dos depósitos dos cidadãos. A derrota atingiu em cheio o novo presidente cipriota, Nikos Anastasiades, uma vez que os deputados do seu partido direitista se abstiveram na votação, que não registou qualquer voto a favor de Bruxelas.
A decisão dos deputados cipriotas tem um impacto que extravasa em muito a questão cipriota, pois é a primeira vez que o parlamento de um país rejeita os termos de resgate que lhes são impostos pela troika ou, neste caso, pelo dueto CE/FMI. Aplicada a Portugal, esta atitude seria como se a Assembleia da República rejeitasse o memorando da troika. Trata-se de um “teste ao que resta da democracia dentro da União Europeia”, declarou um deputado independente citado pelas agências internacionais. “Vamos ver se a vontade expressa pelos representantes dos cipriotas, aliás acabados de eleger, é respeitada pelas instituições europeias”, acrescentou.
Os termos do resgate foram rejeitados por 36 deputados, registando-se 19 abstenções, todas da União Democrática, o partido do presidente, que tem 20 representantes.
A Esquerda Unitária no Parlamento Europeu (GUE/NGL) saudou a decisão do Parlamento cipriota. “O memorando exigindo que Chipre privatize e liberalize os serviços públicos e as empresas públicas é improcedente”, declarou a presidente do GUE/NGL, a eurodeputada alemã Gabi Zimmer. Tais medidas conduziriam a “perdas de empregos e a diminuição dos padrões dos serviços públicos e, além disso, atingiriam os mais vulneráveis”, acrescentou.
Gabi Zimmer considera que deve ser encontrada uma “solução equitativa que não seja alcançada à custa das poupanças das pessoas; desejamos uma solução europeia capaz de construir solidariedade e resolver a crise através de crescimento econômico sustentável. As soluções apresentadas”, prosseguiu, “são mais uma tentativa para afastar as atenções do essencial e nenhuma crise financeira se resolve desta maneira”.
A presidente da Esquerda Unitária considera que o memorando estava “em linha” com as habituais medidas tomadas alegadamente contra a crise mas, no caso cipriota, “era particularmente escandaloso”. Zimmer saudou o Parlamento cipriota e manifestou solidariedade com o povo cipriota e com o AKEL, o Partido dos Trabalhadores, que tem dirigido e vai continuar a dirigir a oposição contra estas propostas erradas”.
Fonte: BE Internacional