Índios de várias tribos costumavam vir ao Rio de Janeiro todos os anos para fazerem gratuitamente atividades em escolas e espaços culturais com a finalidade de divulgar um pouco da cultura que eles ainda mantêm em suas aldeias. Quando vinham para o Rio, sem apoio de nenhuma instituição, ficavam acampados no pátio do Museu do Índio, batizado em 2006 de “Aldeia Maracanã”, depois que índios de diversas tribos do Brasil resolveram ocupar o prédio do Museu que estava abandonado desde 1978.
Quem passava do lado do museu, criado por Darcy Ribeiro e que vai completar 147 anos, podia pensar que o lugar estava abandonado. Mas desde 2006 os índios resolveram dar um novo uso para aquele lugar: transformar uma casa vazia numa grande aldeia que se tornasse uma ponte entre a cidade grande e as tribos espalhadas por todo Brasil, uma ponte entre a memória de um passado quase sem registro e a grande metrópole do futuro, entre os pequenos grupos de índios remanescentes em terras de lugares distantes de nós e os milhões que formam a multidão da cidade do Rio.
Mas nos últimos meses esse projeto de ambiente de convivência e manutenção da cultura indígena sofreu uma série de ameaças que saíram da boca do governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Afirmou que o governo demoliria o antigo prédio do Museu do Índio por conta dos preparativos para a Copa do Mundo. Na ocasião justificou a decisão por uma determinação da FIFA: “O Museu do Índio, perto do Maracanã, será demolido. Vai virar uma área de mobilidade e de circulação de pessoas. É uma exigência da Fifa e do Comitê Organizador Local”. A entidade máxima do futebol desmentiu o fato: “A este respeito, a FIFA gostaria de esclarecer que, além de estar completamente de acordo com todos os argumentos apresentados no vosso ofício, nunca solicitou a demolição do antigo Museu do Índio do Rio de Janeiro ao governo do Estado ou a qualquer outra autoridade”.
O governador do PMDB também minimizou a questão negando o valor histórico e cultural do prédio: “O prédio não tem qualquer valor histórico, não é tombado por ninguém. Vamos derrubar”, argumentou o governador.
O tratamento que o governador Sérgio Cabral, com apoio do prefeito do Rio, acabou dando aos índios foi de forma violenta. Os índios foram retirados do Museu do Índio no último dia 22 de março debaixo de tiros de bala de borracha e spray de pimenta pela tropa de Choque da PM. Os índios, que já foram expulsos de suas terras pelo homem branco, agora foram expulsos do museu construído para eles, mais uma vez pelos mesmos homens que dizimaram centenas de formas de expressão da cultura indígena. Desta vez com o apoio da imprensa por detrás do véu da farsa da democracia constituída.
Marcelo Machado