A 69ª edição da Caravana da Anistia, promovida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, homenageou militantes mineiros no auditório da Faculdade de Direito da UFMG. Com a plateia lotada de militantes políticos e muitos jovens, o evento começou com a exibição do filme Eu me lembro, que faz um histórico da resistência à Ditadura e à luta pela anistia e por eleições diretas.
Compuseram a mesa da solenidade o reitor da UFMG, Clélio Campolina; o representante do Ministério da Defesa, Edmundo Neto; o presidente da OAB-MG, Luís Cláudio Chaves; o presidente da Comissão da Verdade da OAB, Márcio Santiago; o ex-ministro Patrus Ananias; a deputada federal Jô Moraes; os deputados federais Nilmário Miranda, Isaías Silvestre e Ivair Nogueira; e a presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, Maria Cristina Rodrigues.
Dirigida pelo presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, a sessão resgatou a história de sete mineiros, militantes que lutaram pelo fim da Ditadura, resistindo a violentas prisões e torturas, e formalizou o pedido de desculpas em nome do Governo Brasileiro.
“Faria tudo outra vez”
Angelina Dutra de Oliveira nasceu em 1923. Foi dirigente dos funcionários públicos federais e do Movimento de Mulheres em Minas Gerais. Ferroviária, foi presa em 1964, em Belo Horizonte, permanecendo encarcerada durante um mês. Voltou a ser presa em 1969, no Rio de Janeiro, com duas filhas e um neto de dois anos de idade. Viveu no exílio de 1970 a 1978.
Maria Geralda Gomes Diniz casou-se com o militante do PCB David Rodrigues Diniz, aos 20 anos de idade. Toda a sua família foi vítima da Ditadura. Com 93 anos, Angelina foi uma das oradoras no ato e afirmou: “Resisti por amor ao meu País e, olhando para trás, faria tudo outra vez”.
Conceição Imaculada de Oliveira iniciou sua militância política aos 16 anos, no PCB. Após o golpe de 1964, tornou-se dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de MG, que realizou, em 1968, uma das primeiras greves de trabalhadores durante a Ditadura. Presa em 1969, militando no grupo Corrente, dissidência do PCB, foi trocada pelo embaixador suíço no Brasil, em 1971, partindo para o exílio, onde viveu até a anistia.
Carmela Pezzuti iniciou sua militância em 1968, no grupo Colina (Comando de Libertação Nacional). Em 1969, foi presa e teve seus dois filhos (Ângelo e Murilo) presos e torturados. No Rio de Janeiro, militou na VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), sendo novamente presa. Em 1970, foi trocada pelo embaixador suíço, partindo para o Chile, onde enfrentou o golpe de Pinochet, em 1973. Carmela viveu na Itália e França até 1979. Faleceu em 2009, em Belo Horizonte. A homenagem foi recebida por sua irmã, Ângela Pezzuti.
“Eu não tenho nada a esquecer”
Antônio Ribeiro Romanelli é advogado e professor da UFMG e da PUC-MG. Presidiu e defendeu as Ligas Camponesas de Minas Gerais no período da Ditadura. Ficou quatro meses preso e foi condenado pela Justiça Militar a nove anos de prisão. Antônio, com 85 anos, foi um dos oradores do ato e defendeu a revisão da Lei da Anistia. “Anistia para mim é esquecimento e eu não tenho nada a esquecer. Eu me recuso a estar no mesmo nível do Brilhante Ustra e me orgulho de ter participado da luta contra a Ditadura”.
Terezinha Martins Rabêlo, casada com o jornalista José Maria Rabêlo, teve que cuidar sozinha de seus sete filhos, enquanto o marido fugia das perseguições políticas. Teve sua casa invadida e saqueada diversas vezes. Conseguindo viajar para o Chile, sofreu as consequências do golpe contra o Governo Allende. José Maria Rabêlo recebeu as homenagens e fez um discurso emocionado em referência à sua companheira já morta.
Oroslinda Maria Taranto Goulart (Linda Goulart) foi militante da Polop quando estudante de Jornalismo, em 1965. Integrou a Colina, atuando no movimento operário e participando da greve de abril de 1968. Em 1969, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a integrar a VAR-Palmares. Foi companheira da presidente Dilma Rousseff na clandestinidade. Participou do Movimento Feminino pela Anistia. Hoje trabalha na Secretaria de Política para as Mulheres.
A Caravana da Anistia
A Caravana da Anistia é composta por sessões públicas que avaliam pedidos de anistia política, além de divulgar as atrocidades cometidas, em especial, no período da Ditadura Militar e homenagear militantes que lutaram por liberdade e justiça, resgatando a memória nacional com atividades educativas e culturais. Segundo o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, a Caravana já percorreu 20 estados e apreciou 1.700 pedidos de anistia política.
Além das homenagens, a sessão da caravana na UFMG analisou dois casos. O processo de Cecílio Emídio Saturnino, ex-cabo da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), morto em 1966, e de Wellington Moreira Diniz, estudante do curso de Ciências Sociais da UFMG. Wellington trabalhava como redator do jornal O Metalúrgico e foi preso, condenado e banido do País em 1971.
Natália Alves, Belo Horizonte