Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade e Memória de Pernambuco Dom Helder Câmara, realizado em 16 de maio, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe), Edival Nunes Cajá, membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário, e o publicitário José Nivaldo Júnior denunciaram o sequestro e as torturas a que foram submetidos, inclusive revelando nomes de torturadores e chefes da repressão, além de apresentarem provas de que os diversos órgãos repressivos agiam sob o comando do Exército, através do Destacamento de Operações de Informação e do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
José Nivaldo, acusado de ligações com o Partido Comunista Revolucionário, foi sequestrado de sua casa em 29 de agosto de 1973 e mantido nas dependências do IV Exército, sofrendo torturas e ameaças, vindo a ser oficialmente preso, apenas, em 8 de outubro daquele ano. O publicitário apontou como um dos responsáveis pelo seu sequestro e torturas o coronel Antônio Cúrcio Neto, chefe da 2ª Seção e do DOI-Codi do então IV Exército.
Edival Cajá, que atualmente preside o Centro Cultural Manoel Lisboa, foi sequestrado em 12 de maio de 1978, sendo instalado inquérito na Polícia Federal somente três dias depois, graças à ampla campanha de denúncias promovida pelo movimento estudantil e por dom Helder Câmara.
Em seu depoimento, afirmou que o coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro foi o primeiro a interrogá-lo: “Era, visivelmente, quem dirigia a equipe de agentes da Polícia Federal”. Segundo Cajá, o coronel Ribeiro apresentou-se na ocasião como “Dr. João Carlos”. Cajá relacionou ainda na lista dos seus torturadores: Marcos Alexandre Cavalcanti, José de Arimateia, Fidélis Guilherme Novelli, Marcelo e Crêunio (Satanás).
Descreveu as torturas a que foi submetido e pediu que a Comissão apurasse as acusações de tortura que pesam contra os oficiais superiores do Exército que atuavam em Pernambuco na época da repressão e teriam envolvimento com o sequestro, as torturas e a morte de Manoel Lisboa e Manoel Aleixo: Antônio Cúrcio Neto, Vilarinho Neto e Gabriel Duarte Ribeiro.
Ambos os depoentes denunciaram o assassinato do dirigente do PCR Manoel Lisboa de Moura, morto após 16 dias de tortura na sede do DOI-Codi, no IV Exército, no Recife, em 4 de setembro de 1973. José Nivaldo viu Manoel Lisboa enquanto esteve sequestrado. Segundo ele, Manoel estava “esbagaçado, em estado indescritível do ser humano”. Nivaldo contestou a versão oficial de que Manoel foi morto em um tiroteio em Moema, na cidade de São Paulo.
Cajá ainda forneceu informações para que sejam apuradas as responsabilidades pelas mortes de outros dirigentes do PCR assassinados pela Ditadura: Amaro Félix Pereira, desaparecido político desde 1971; Amaro Luiz de Carvalho, morto a pauladas e envenenamento na Casa de Detenção do Recife em 22 de agosto 1971, faltando poucos dias para concluir sua pena; Manoel Aleixo da Silva, sequestrado de sua casa em 26 de agosto de 1973 e cujo corpo está desaparecido até hoje; e Emmanuel Bezerra dos Santos, assassinado sob terríveis torturas no DOI-Codi de São Paulo, depois de haver sido sequestrado pela Operação Condor, quando voltava de missão internacionalista no Chile e Argentina. Emmanuel foi sepultado na mesma cova para onde levaram Manoel Lisboa, tendo sido ambos enterrados como desconhecidos.
Thiago Santos, Recife