Cerca de 200 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) de Diadema realizaram uma ocupação de protesto, no dia 4 de maio, no bairro de Eldorado. A ocupação recebeu o nome de Lucineia Xavier, uma lutadora do movimento falecida em 2010.
O MLB organizou a primeira ocupação na cidade em 2008 e uma segunda em 2010 e, desde então, abriu negociação com a Prefeitura, debatendo um projeto que atendesse a famílias pobres da região. Atualmente, o processo de desapropriação já conta com depósito judicial de R$ 500 mil, referente ao pagamento do valor venal da área, faltando apenas concluir o depósito da diferença da avaliação judicial. Para tal, já existe verba aprovada de forma unânime pelos conselheiros do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (Fumhabis). Desde o começo do ano, porém, a atual gestão da Prefeitura – do Partido Verde – pediu dois adiamentos desse projeto.
Por isso, cansadas de esperar e temendo que a Prefeitura voltasse atrás em relação às conquistas que o Movimento já obteve, as famílias decidiram realizar a ocupação, que durou quatro dias. Nos dois primeiros dias, a Polícia agiu com truculência, impedindo que as pessoas que haviam saído, e até mesmo as crianças que iam usar o banheiro, entrassem novamente no terreno. Os alimentos eram revistados com muita brutalidade, sendo colocados muitas vezes no chão.
No entanto, a ocupação também contou com enorme solidariedade: os vizinhos ao redor do terreno cederam água e alimentos. A Central de Movimentos Populares (CMP) esteve presente em todos os momentos, desde a ocupação até o final. Alguns vereadores deram apoio, em especial Orlando Vitoriano (PT). A Defensoria Pública do Município, a OAB e o Conselho Tutelar também estiveram lá para defender as famílias.
Já no dia 6, o movimento realizou um grande ato ecumênico em apoio à ocupação. Centenas de pessoas participaram. Neste mesmo dia, o Movimento foi atendido pelo prefeito Lauro Michels, pelo secretário de Habitação e pelo secretário de Assuntos Jurídicos, entre outros. Nessa reunião ficou acordada a continuidade do projeto, bem como todos os trâmites necessários até a construção das moradias. O prefeito foi até o terreno para se comprometer pessoalmente.
Este processo, que culminou com a ocupação, foi uma grande prova de que apenas organizado e em luta é que o povo pode conquistar o que necessita. A ocupação, nesses poucos dias, já tinha cozinha coletiva, banheiros, pia para lavar a louça, ruas e um espaço para as assembleias, que ocorriam diariamente, pela manhã e à noite.
A ocupação era composta, em sua maioria, por mulheres, que, com seus filhos no braço ou correndo e brincando, construíram barracos, cozinharam, enfrentaram a Polícia e se fizeram ouvir nas assembleias e reuniões. A ocupação também mostrou que os trabalhadores são imensamente solidários. Todos se tornam responsáveis pelas crianças; todos dividiram o alimento, cobertores, ferramentas. Deram demonstrações de enorme criatividade, improvisando infraestrutura necessária para se viver dignamente sob barracos de madeira e lona.
Está aí uma demonstração de que uma nova sociedade, igualitária, fraterna, justa e solidária, é possível. Os trabalhadores e trabalhadoras que estiveram na Ocupação Lucineia Xavier, enfrentando frio, ventania e chuva, agora têm certeza disso.
Carol Vigliar, São Paulo