O jornal A Verdade entrevistou Elisabete de Jesus. Baiana, Elisabete tem 37 anos, é mãe e mora na Vila São Pedro, bairro pobre de São Bernardo do Campo. Nesta entrevista, relata sua experiência na alfabetização de trabalhadores e crianças do interior da Bahia.
A Verdade: Como você iniciou o seu trabalho de alfabetização?
Elisabete de Jesus: Em 1997, eu morava em Barra do Rocha, na Bahia. Quando terminei o 2° grau, soube que a Secretaria de Educação estava atrás de jovens que pudessem fazer parte de um programa Alfabetização de Jovens e Adultos. Eu me interessei, pois dava formação para os professores.
Quem eram seus alunos?Onde eram as aulas?
Eu dava aula pra gente que ficava o dia todo debaixo de sol, colhendo cacau e cajá. Eles acordavam às 5h00 e chegavam à escola às 19h30 sempre na hora. Saíam às 20h30, pois, às 21h00, o fazendeiro mandava desligar as luzes. Era sempre assim todo dia: 30 pessoas com as mãos calejadas, o rosto queimado de sol, na fazenda Flor do Brasil, zona rural da cidade Ibirabá. O dono da fazenda se chamava Carlos Firmo Leal e era por sinal irmão do prefeito, mas nunca foi ver como eram as aulas. Existia uma estrutura de escola dentro da própria fazenda, que era enorme.
Como eram as aulas para os adultos? Como foi a experiência de ter alfabetizado as crianças?
Era muito animado, mesmo com a vida dura que eles tinham, não faltavam nunca, porque eles não queriam que seus filhos tivessem a mesma vida. Era uma vida muito sofrida, mas não tinha um só dia que eles não chegassem com sorriso no rosto e querendo aprender. Quando começavam a escrever seu nome era uma festa, meus alunos, na época da política, votavam com o dedo. Foi assim durante os três anos. Para ensinar a criança era diferente, pois a criança aprende bem mais rápido, e, assim que acabava a aula, elas iam ajudar os pais na lavoura, e suas mãozinhas estavam sempre vermelhas ou machucadas. Consegui alfabetizar todos eles.
O que você tem a dizer para o nossos leitores?
Acho que falta oportunidade para o povo. Esses governos oferecem quase nada pra gente. Aqui na Vila temos que animar esse povo e no País inteiro também, porque nos sofremos muito.
Gabriela Valentin, São Bernardo do Campo