O livro de Lobão e o filme sobre Renato Russo

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Somos Tão JovensNo início de maio, enquanto o roqueiro conservador (?) Lobão atraía os holofotes da grande mídia pelo lançamento de seu livro ultrarreacionário Manifesto do Nada na Terra do Nunca, ganhando capas de revistas e espaço em diversos noticiários, estreava nos cinemas o filme Somos Tão Jovens, do diretor Antônio Carlos da Fontoura, que conta parte da juventude de Renato Russo e o surgimento da banda Legião Urbana.

Só que mais curiosa que a quase sobreposição dessas datas (o filme estreou no dia 3 de maio e o livro foi lançado no dia 6) foi a resposta do público e da mídia aos dois eventos. Enquanto Lobão busca se afirmar a todo custo no campo extramusical, criando polêmicas e regurgitando na imprensa ressentimentos típicos de um pequeno-burguês fracassado, o filme de Renato Russo levou mais de um milhão de espectadores aos cinemas somente nos dez primeiros dias de exibição.

Embora a grande mídia tente apresentar o pseudorrevoltado Lobão como um exemplo para a juventude brasileira, insatisfeita com a situação econômica, política e social do País, a reação do público mostrou, mais uma vez, que as músicas e o mito criados em torno da figura de Renato Russo já conquistaram uma nova geração de brasileiros e brasileiras que se reconhecem mais nas letras de Renato, falecido em 1996, do que nas excentricidades raivosas e direitistas de uma múmia que a mídia insiste em tentar emplacar.

Também pudera: em seu livro Lobão ataca o comunismo, a Comissão da Verdade, a esquerda em geral e afirma que Che Guevara é “um dos maiores e inquestionáveis assassinos do século 20”. O perfeito idiota útil que a direita precisa para dar expressão ao que ela não pode sustentar abertamente.

Já o filme sobre Renato Russo, fazendo um recorte que cobre desde a rara doença óssea que o deixou paralítico aos 15 anos de idade até o primeiro show da Legião Urbana fora de Brasília, reconstitui o ambiente em que o jovem compositor escreveu os primeiros grandes sucessos da banda, como Ainda É Cedo, Que País É Esse?, Eu Sei e Faroeste Caboclo, entre outros.

Somos Tão Jovens revela vários conflitos de Renato, um jovem de classe média de Brasília vivendo nos anos finais da Ditadura Militar. Num período em que o punk surgia não apenas como música, mas também como uma atitude de contestação política e cultural da juventude ao capitalismo, Renato abraçou o movimento e bebeu de suas influências, formando-se enquanto músico de poucos acordes e crítico da ordem vigente. Cenas como as que mostram Renato e seus amigos fazendo pichações em muros ou quando um membro de sua banda ensaiava com uma camisa da União Soviética (CCCP) reforçam o clima de contestação da época.

Embora não seja uma grande produção, o filme não deixa de ser uma boa opção para conhecer um pouco mais do início da carreira do compositor que continua, mesmo 17 anos após a sua morte, conquistando novas gerações de brasileiros unicamente pela força de sua música. Bem ao contrário de Lobão, que, se lançou alguma música nos últimos anos, não foi por ela que recebeu a atenção da grande mídia.

Redação Belo Horizonte