Prisão marca manifestação em Recife

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Cris da Silva, presa em Recife durante manifestaçõesOs atos pela redução das passagens em Pernambuco movimentaram diversas cidades do Estado, em especial na Capital, Recife. No Sertão, a famosa ponte que liga as cidades de Petrolina e Juazeiro (na Bahia) parou as duas cidades; em Caruaru, mais de cinco mil pessoas foram às ruas.

No Recife, desde o dia 20, milhares de pessoas ocupam as principais avenidas. Com a justificativa da eterna “proteção”, a Polícia colocou nas ruas um arsenal de guerra, com cavalaria, cachorros, guarda municipal, batalhão de operações especiais, carros, jipes, motos, helicópteros.

Tudo à disposição para um enfrentamento, que certamente é desigual. Mesmo assim, cerca de três mil manifestantes saíram às ruas no último dia 26, com o objetivo de entregar uma pauta ao governador. Todos seguiram para o Centro de Convenção, onde está funcionando a sede provisória do Governo. Além os cartazes, faixas e caras pintadas, muitas bandeiras de sindicatos, entidades estudantis e de movimentos sociais foram erguidas.

Pouco diálogo e muita repressão

Uma dessas bandeiras era a do DCE-Fafire (Faculdade de Filosofia do Recife), erguida por sua presidente, a estudante de Biologia de 19 anos, Crislayne Maria da Silva. Cris, conhecida liderança estudantil, passou toda a manifestação à frente da marcha, com um megafone na mão, levantando palavras de ordens e ajudando na organização. Por volta das 19h, quando houve a dispersão do ato, foi presa quando voltava para casa com um grupo de cerca de 50 pessoas. Todos foram revistados e foi nada encontrado. Mesmo assim, a estudante foi cercada por mais de 20 policiais e, apesar de muito protesto e resistência dos presentes, a prisão foi efetuada.

Cris foi levada para diversos lugares: primeiro para o posto da PM no Hospital da Restauração, depois para a Delegacia de Menores; na madrugada, para a Delegacia do Bairro de Santo Amaro, às 06h da manhã para o IML e, em seguida, para a Colônia Penal Feminina Bom Pastor. Os manifestantes que acompanharam esta verdadeira saga também foram ameaçados de prisão. Imediatamente uma rede de aliados foi construída (OAB, sindicatos, entidades estudantis, professores, movimentos religiosos e centenas de estudantes). Um grupo de advogados entrou com o pedido de habeas-corpus.

A liberdade de Cris se deu por volta das 15h do dia 27, quando familiares amigos e manifestantes esperavam, em vigília, sua soltura. A seguir entrevista da líder estudantil Cris Maria ao jornal A Verdade.

A Verdade – Como foi sua prisão?
Cris da Silva – Quatro policiais abordaram nosso grupo, que seguia pacificamente pela Avenida Conselheiro Aguiar, e começaram a revistar a bolsa de todos e  pediram que eu pegasse uma mochila que estava aberta no chão. Logo em seguida, sem diálogo, anunciaram que eu estava presa. Os outros manifestantes não aceitaram, pois era um absurdo o que estava acontecendo. Fui encaminhada à GPCA (Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente), onde a tal mochila já não existia mais. No lugar dela, eles estavam com uma sacola plástica contendo um refil para carregar isqueiro e fogos de artifício.

O delegado achou um absurdo aquela situação, e só então me perguntaram nome e idade. Respondi e fui encaminhada à Delegacia da Mulher e posteriormente, por volta das 18h, à Delegacia de Santo Amaro. Só fui ouvida às 04h da manhã. Antes mesmo de me ouvir, a delegada anunciou que eu só sairia de lá após pagar fiança de cinco mil reais.

Quais lições você tira deste processo?
Um governador que se recusa a ouvir o povo, que se esconde atrás da Polícia e reprime as manifestações populares não representa os interesses de ninguém, a não ser seus interesses e dos demais poderosos a sua volta! Tudo que passei me motiva ainda mais a estar nas ruas lutando por uma sociedade mais justa. Foi como uma prova que só fortaleceu a convicção daquilo que eu defendo, que é um governo do povo para o povo!

Elizabeth Araújo, Recife