Mery Zamora: “Sou uma mulher que não se vende”

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MeryZamora é professora equatoriana e presidente da União Nacional dos Educadores (UNE)Mery Zamora é professora equatoriana e presidente da União Nacional dos Educadores (UNE). Lutadora, mãe e mulher exemplar, devido à sua luta por uma educação pública e de qualidade no Equador e por suas ideias revolucionárias, é vitima de uma perseguição feroz do governo Rafael Correa. Nesta entrevista, MeryZamora diz como está enfrentando essa situação e afirma: “não sou uma mulher que se ajoelha, que se dobra. Sou uma mulher que não se vende”.

Como está Mery Zamora neste momento?
Estou tranquila, e o digo com a maior sinceridade. Estou bem como mulher, professora e dirigente social, primeiro porque sou inocente, porque a verdade me assiste. Não sou delinquente, não sou terrorista, não sou corrupta e nem sabotadora; porque não estou envolvida nos casos de corrupção do Governo.

A serenidade demonstrada em meu rosto, a serenidade expressa em minhas palavras e a alegria que inunda meu sorriso são a expressão de que sou inocente, de que estou com a consciência tranquila. Hoje, mais do que nunca, meu compromisso firme para enfrentar o Governo é a razão da minha vida. Caminha com a cabeça erguida, caminha por minha terra sem temor de ser apontada por meu povo como corrupta ou mentirosa.

Vou resistir. Correa deve saber que MeryZamora não é mulher que se ajoelha, que se dobra. Sou uma mulher que não se vende, porque a diferença entre esses juízes e eu é que eles têm preço, enquanto eu tenho minha valentia, que é incalculável.

Sigo em minha escola, em minha casa, explicando a meus filhos que estas são as coisas que devemos enfrentar na vida para deixar um legado de dignidade.

Como receberam a notícia da sentença seus alunos e pais?
Em minha escola, Lorenzo Luzuriaga, em Portoviejo, as mães, que são muito carentes, estão muito preocupadas. Logo que saiu a sentença escreveram-me. A segunda-feira após o anúncio da condenação foi muito emotiva para mim porque desde cedo as mães dos alunos das minhas turmas chegavam preocupadas dizendo que rezavam por mim, que haviam feito missas por mim, um sem-número de coisas próprias do nosso povo. Tudo isso me encheu de energia positiva. Disseram-me que confiasse, pois a justiça tarda, mas não falha. Inclusive, falaram que “o que escutamos é que terroristas são os que matam e sequestram, e você não faz isso; você ensina nossos filhos, lhes transmite respeito e valores”.

Meus alunos me dizem: “senhorita, se a levarem presa nós vamos com você, e diga às câmaras que queremos falar que você professora e que é boa”.

O que sente Mery Zamora diante da solidariedade do povo?
Hoje, mais do que nunca, pela solidariedade que demonstram meus companheiros das organizações sociais, gremiais e sindicais, sinto que estou no caminho correto. O povo está despertando. No povo equatoriano existe a consciência de que os direitos humanos são violados. Quem não pensa igual ao regime correísta é judicializado, criminalizado e preso.

O direito de pensar diferente é proibido para que não denunciemos a corrupção e a violação dos direitos humanos, como no caso dos meninos do Colégio Técnico Central, cujo único delito foi defender uma educação de qualidade.

Como está o processo contra você?
Em 14 de junho deste ano, quando o Tribunal de Garantias Penais decidiu impor-me uma pena de oito anos de prisão, junto a meus advogados e companheiros, decidimos interpor um recurso de esclarecimento e relaxamento antes da apelação. Fizemos isso porque esta sentença, em suas 109 páginas, não tem pé nem cabeça, está cheia de irregularidades. Em toda sua redação a sentença menciona tratados internacionais que, ao invés de sustentar a decisão, argumentam a favor de minha inocência. Temos defendido que se faça a argumentação de toda a sentença, pois há o que se denomina juridicamente de “testemunhos que não são idôneos”, feitos por inimigos pessoais e políticos declarados do réu.

Além disso, validaram o áudio que os peritos criminalísticos da Polícia Nacional afirmaram não poder transcrever por problemas técnicos. Esta é uma sentença que se supõe ter sido feita fora do tribunal.

Que mensagem deixa a seu povo?
Quero dizer-lhes que a luta continua e que é dos valentes que os prepotentes e autoritários vangloriam-se quando os valentes lhes permite. Nosso povo é de gente que não se submete, leal e de grandes princípios. Somos pessoas que não nos deixamos comprar por um punhado de lentilhas. A lealdade e a consequência de nós que lutamos para que as famílias vivam dignamente continua de pé. Mesmo que se esgotem todas as instâncias e MeryZamora vá presa, que seja, de qualquer maneira entregarei minha vida pelas causas justas. Oito anos não são nada comparados com todos estes anos que tenho lutado pela transformação em meu país.

(Entrevista publicada pelo periódico Opción, nº 261)