O País inteiro tem acompanhado com atenção as manifestações populares contra o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ao longo das últimas semanas, centenas de pessoas têm literalmente tirado o sono do governador, ocupando por diversas vezes a frente do prédio onde mora no Leblon, bairro nobre da Zona Sul carioca, exigindo sua renúncia. O clamor pelo “Fora Cabral” é consequência de anos de um governo marcado pelo autoritarismo e a repressão ao movimento social.
Nos últimos anos, a população do Rio de Janeiro tem sofrido com uma sensível piora dos serviços públicos prestados. A educação, por exemplo, chegou a amargar a 26ª posição no ranking nacional de qualidade (hoje estamos na 16ª colocação), apesar de o Estado ser o segundo mais rico do País. A saúde está um caos e até hospitais foram fechados pelo Governo, a exemplo do Instituto de Assistência dos Servidores do Rio de Janeiro (Iaserj), que atendia funcionários e servidores públicos. Nem mesmo o Museu do Índio, patrimônio histórico e cultural, e os indígenas que o habitavam foram poupados, bem como o Maracanã, o nosso “Maraca”, que foi privatizado e hoje é privilégio de poucos.
A política de segurança pública, tida como a “menina dos olhos” do Governo, na verdade, tem como prioridade as áreas mais valorizadas, onde vivem as classes ricas, reservando às comunidades pobres o crescimento da violência e da repressão policial. De acordo com a OAB/RJ, na comparação com os seis primeiros meses de 2006 e 2007, o Governo registrou menos prisões (-23,6%), menos armas apreendidas (-14,3%) e mais mortes (33,5%) no Rio de Janeiro. A clara opção de classe da política de segurança de Sérgio Cabral é expressa pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que, logo após uma operação policial que deixou 13 mortos nas favelas da Coreia e Taquaral, afirmou que “um tiro em Copacabana é uma coisa; um tiro na favela da Coreia é outra”.
O povo contra Cabral
Por tudo isso, e pelos constantes casos de corrupção e mau uso das verbas públicas, o governador Sérgio Cabral virou o principal alvo das manifestações que têm ocorrido no Rio de Janeiro. A resposta do Governo tem sido constantemente violenta, o que anima ainda mais os manifestantes a continuarem nas ruas e tem jogado cada vez mais a opinião pública contra o governador.
No dia 2 de julho, no complexo de favelas da Maré, mais de três mil pessoas protestaram contra a violência policial que matou 10 moradores durante uma operação do Bope. No dia 11 de julho, após a manifestação do Dia Nacional de Lutas convocado pelas centrais sindicais ser reprimida pela Polícia Militar, mais de duas mil pessoas foram ao Palácio Guanabara, sede do Governo, em repúdio à violência. Novos confrontos aconteceram, e até uma bomba de gás lacrimogêneo foi jogada pela Polícia num hospital. No último dia 22, mais uma manifestação na porta do Governo. Com o papa dentro do palácio, milhares de pessoas protestaram contra os gastos públicos com a Jornada Mundial da Juventude e contra a homofobia. Menos de 20 minutos após a saída do papa, novamente a Polícia Militar desatou uma feroz repressão contra os manifestantes.
Para intimidar as manifestações, o governador Sérgio Cabral chegou a nomear uma Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas (Ceiv), com poderes de quebrar os sigilos telefônicos e de internet dos “suspeitos” sem autorização judicial. Imediatamente entidades defensoras dos direitos humanos reagiram contra esta medida ilegal e fascista e conseguiram derrubar o decreto.
O povo tem ido às ruas exigir mais direitos; está cansado de toda essa violência e quer soluções verdadeiras. Exige o fim da atual política de segurança pública, que garante paz aos ricos e morte, terror e violência aos pobres; exige uma educação e saúde de qualidade, bem como transportes públicos decentes, o fim da corrupção, da privatização do Maracanã e o arquivamento de todos os processos contra os manifestantes.
Rafael Coletto, Rio de Janeiro