Resgatando, de forma criativa, a tradição da presença feminina nas rodas de samba carioca, um grupo de mulheres, ativistas do movimento popular e sindical, encontrou no toque do chocalho, sua entrada e permanência nesse espaço de hegemonia da presença masculina.
Fazendo alusão ao instrumento de percussão referente à cauda da cobra cascavel, o grupo se autodenominou “As Cascavéis” e, todo segundo sábado de cada mês, lá estão elas com seus instrumentos, seus gingados cadenciados e suas vozes em coro, na roda de samba do Bloco Carnavalesco Samba Brilha.
O evento acontece, há oito anos, no entorno da Cinelândia, palco dos principais acontecimentos políticos, no Centro do Rio de Janeiro, e sempre com uma motivação política de esquerda: o jornal A Verdade, representando a imprensa popular, já foi homenageado pelos sambistas e, está sempre presente nas rodas de sábado à tarde.
O grupo de chocalheiras começou com as quatro mulheres mais atuantes: Andréa Figueira, Márcia Leite, Irany Pinto e Carlinha. Hoje, já são dez ritmistas femininas garantindo seu espaço. Com exceção do componente Roberto, que é o único homem cascavel,
E esse número cresce a cada roda. Como diz Andréa Figueira: “nós percebemos que em vários momentos os companheiros eram convidados a tocarem na roda, e as mulheres ficavam um pouco destacadas. Então, surgiu a ideia de nos aglutinarmos com nossos chocalhos, até por ser um instrumento leve e fácil de tocar”.
Numa roda de samba que prima pela preservação da cultura popular, esse grupo de mulheres homenageia, também, as antigas cabrochas dos sambas cariocas, mas afirma sua condição de chocalheiras. Dessa maneira, chamam a atenção para a presença feminina no Samba Brilha. Os homens podem e devem participar. Mas, o toque especial fica por conta das cascavéis.
Denise Maia, Rio de Janeiro