Depois de vários anos de sofrimento com uma enfermidade pulmonar, finalmente descansou, no Recife, a mais importante guerrilheira das Ligas Camponesas, Alexina Lins Crêspo de Paula. Ela foi a representante oficial das Ligas Camponesas brasileiras na Reunião da Tricontinental realizada em Havana, no verão de 1967.
Discreta, como toda excelente revolucionária, rigorosamente responsável por atividades secretas ou clandestinas, Alexina Crêspo nunca deixou transparecer os cargos de mais alto nível que exerceu desde 1955, quando a Liga Camponesa do Engenho Galileia se perfilou como organização de luta.
Esposa de Francisco Julião, foi Alexina quem mais contribuiu na formação político-ideológica de esquerda do dirigente das Ligas de Pernambuco, mesmo sendo ela 14 anos mais jovem. Somada a isso, a prática militante de Jaime Miranda, do Comitê Regional o PCB de Pernambuco, e à minha influência [Clodomir Morais], estabelecemos o caráter leninista de que carecia a organização de massas criada por Zezé da Galileia, José dos Prazeres e pelo padre português Alípio de Freitas.
Muito antes do golpe militar de 1º de abril de 1964, Alexina levou seus quatro filhos pequenos, Anacleto, Anatólio, Anatilde e Analtaide para morar e estudar em Cuba.Também fez viagem a Pequim, onde se encontrou com o presidente Mao Tse-Tung e conversou sobre a carência de formação de quadros das organizações sociais chinesas, reunião testemunhada pela revista Manchete, de São Paulo.
Realizava cada vez mais missões importantes em nome das Ligas Camponesas, e, já na condição de secretária nacional de formação, alcançou multiplicar destacados quadros da organização, tais como o casal Delsuite Costa e Silva e Adauto Cruz, comandante dos esquemas militares de defesa das Ligas.
Em 1967, na região das montanhas de Teresópolis, as camaradas Teresinha e sua filha Amaralita cuidaram, durante 30 anos, da absoluta clandestinidade de outro guerrilheiro chamado Adauto, que conseguiu resgatar do cerco de fuzileiros navais e da Aeronáutica o camarada Palmeira (Amaro Luiz de Carvalho) e o famoso pintor e escultor José Dias, fugindo com eles pelo Estado do Tocantins e pelo município de Barreiras (nordeste da Bahia).
Nesse confronto, houve duas baixas: um sargento da Marinha, que desertou, e um outro sargento que, por equívoco, teve sua perna atingida pela metralhadora dos seus companheiros que haviam participado do cerco dos três guerrilheiros das Ligas. Eles ficaram escondidos nas comunidades Bongó, Manoel Alves e Boqueirão, no Município de Almas, comunidades que as Ligas tinham anteriormente estruturado para proteger os camponeses locais das violências militares e dos latifundiários armados pelo governador de São Paulo, Ademar de Barros, que chegou a distribuir carabinas automáticas aos grileiros da área.
Observe-se que dois meses antes do golpe militar, o principal destacamento das Ligas Camponesas de Julião invadiu o luxuoso Engenho Serra, do latifundiário Alarico Bezerra, no Município de Vitória de Santo Antão, cuja capela era toda dourada, tendo em frente um lago com cisnes importados. A invasão e ocupação do Engenho Serra tinha um único propósito: capturar armas para se defender da crescente violência patrocinada pelos latifundiários.
Quando os militares deflagraram o golpe de Estado, a liga de Vitória de Santo Antão ocupou a cidade toda para controlar os estoques de gasolina e bloquear a fuga dos latifundiários que perseguiam a Liga da Galileia. A ação foi realizada com êxito sob o comando dos camaradas Luiz Serafim, da professora Maria Celeste e do líder camponês Rochinha, com o apoio da formação dada pela camarada Alexina Crêspo. Para conhecer mais sobre a história dessa grande mulher, veja os filmes: Memórias Clandestinas (2007) de Maria Thereza Azevedo e Alexina – Memórias de um Exílio (2012) de Claudio Bezerra e Stella Maris Saldanha.
Por tudo isso, gritamos bem alto: CAMARADA ALEXINA CRÊSPO! PRESENTE, PRESENTE, PRESENTE!
Clodomir Morais foi deputado estadual pelo PCB em Pernambuco e é autor do livro História das Ligas Camponesas do Brasil