Nos dias 03 e 04 de maio, na cidade do Recife, Pernambuco, mais de 250 mulheres se reuniram para discutir sua organização e principais bandeiras de luta.
Realizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, o evento contou com representantes de 13 estados do país.
O ato de abertura do encontro homenageou as mulheres lutadoras perseguidas pela Ditadura Militar brasileira (1964-1985). Os nomes das 50 mulheres assassinadas ou desaparecidas pelo regime de exceção foram declamados, acompanhadas por um forte coro de todo o plenário que dizia “Presente, agora e sempre”.
Três companheiras resistentes, que tiveram atuações diferentes no período, foram homenageadas pelo movimento.
A cultura popular esteve presente durante todo o encontro, desde frevo e coco de roda, até chorinho.
Maria do Socorro Abreu e Lima, que foi militante da Ação Popular, lembrou do nome de outras mulheres importantes do período, destacando Criméia Schmidt de Almeida, que teve seu filho na prisão e cujo companheiro foi assassinado na Guerrilha do Araguaia, e que nunca desistiu da luta por memória, verdade e justiça.
Irmã Celina, que militava junto de D. Helder Câmara, também foi homenageada por sua luta em defesa dos presos políticos da época. Em sua fala, ela defendeu o Socialismo e destacou a importância da luta da juventude.
D. Elzita, que completou 100 anos recentemente, foi homenageada na pessoa de Marcelo Santa Cruz, por sua árdua e incansável luta pela busca dos restos mortais de seu filho, Fernando Santa Cruz e de todos os desaparecidos brasileiros.
A violência contra a mulher foi tema de destaque no primeiro dia de encontro. Com uma exposição da situação que as mulheres vivem no país, em especial as que não possuem recursos para livrar-se de uma situação de violência, o plenário teve intensa participação com mulheres expondo as suas próprias experiências de opressão e violência. A importância de nossa organização para garantir a superação dessas violações de direito foi a tônica do debate.
No segundo dia do encontro, as mulheres participaram de sete grupos de debates, onde aprofundaram vários temas candentes para as mulheres, como o impacto da Copa da Fifa em suas vidas, a luta das mulheres na América Latina, mulheres negras, entre outros.
À tarde, foi realizada uma plenária geral onde foram apresentadas sínteses das discussões nos grupos e aprovadas diversas propostas e uma Coordenação Nacional composta por 33 companheiras de todos os estados presentes.
Ao final, foi lida e aprovada a “Carta de Recife”, um documento político que trouxe o compromisso das mulheres organizadas no Movimento Olga Benário com a luta pelos direitos das mulheres e pelo Socialismo.
CARTA DE RECIFE
Reunidas na cidade de Recife, mulheres representadas por 13 estados brasileiros nos dias 03 e 04 de maio de 2014, analisaram a situação de exploração e opressão em que vive as mulheres.
Identificamos que a crise do sistema capitalista aprofunda as desigualdades da sociedade de uma forma geral e das mulheres de forma particular. Constatamos o aumento da diferença salarial entre homens e mulheres, aumento dos casos de abuso, estupros e feminicídios.
Encaramos os tristes dados de que mais de meio milhão de mulheres são estupradas todos os anos. Uma mulher é agredida a cada 15 segundos e cada hora e meia uma mulher é assassinada em nosso país. Essa violência é fortalecida pelos grandes meios de comunicação que resume o corpo da mulher como uma mera mercadoria.
Neste ano, de forma especial, as mulheres serão submetidas à políticas de graves violações de direitos em decorrências da realização da Copa da Fifa. Nós somos as principais atingidas pelas truculentas remoções para construção de obras e seremos submetidas a um cenário propício ao aumento significativo da exploração sexual de mulheres e meninas. Os recursos destinados à realização dos megaeventos estão sendo desviados de áreas essenciais para a melhoria da situação de vida das mulheres como saúde, habitação e educação.
As mulheres negras, além do combate diuturno ao machismo e opressão de gênero, ainda enfrentam o racismo, que tem raízes profundas na sociedade capitalista brasileira. Debater e organizar as mulheres negras contra a violência racial será também uma de nossas bandeiras.
No marco dos 50 anos do golpe militar no Brasil, onde milhares de mulheres foram perseguidas, presas, torturadas e assassinadas e muitas ainda continuam desaparecidas, fortalecemos a importância da organização e do protagonismo das mulheres na luta pela transformação da sociedade.
Por isso, o 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário reafirma seu compromisso com o combate a todas as formas de violência contra as mulheres, por salário igual para trabalho igual, por creches, restaurantes e lavanderias públicas, pelo fim da exploração sexual das mulheres, pela descriminalização e legalização do aborto, pelo fim da mercantilização das mulheres e também pelo fim do racismo.
Avaliamos que a sociedade capitalista, patriarcal, racista, homofóbica, lesbofóbica e machista nos impede de vivermos plenamente como mulher. Desta maneira, a luta contra esse sistema explorador e opressor é fundamental para conquistarmos a nossa verdadeira emancipação. Somente em uma sociedade nova seremos tratadas com igualdade e respeito. Essa sociedade tem nome, chama-se sociedade socialista e por ela lutamos!
VIVA A LUTA DAS MULHERES! VIVA O SOCIALISMO!