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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Haiti: 200 anos de luta contra a exploração

Haiti02O Haiti é um país muito pouco conhecido por nós brasileiros. Quando ouvimos algo sobre ele normalmente são notícias na grande mídia acerca de um país pobre, sem infraestrutura, com uma economia subdesenvolvida e que sofre uma intervenção da ONU, encabeçada por tropas brasileiras, para supostamente “garantir a ordem e o desenvolvimento econômico” naquele país. O que poucos sabem é que o povo haitiano vem escrevendo, ao longo de mais de 200 anos de independência, algumas das páginas mais bonitas da luta dos povos oprimidos do mundo.

A revolução negra haitiana

O Haiti foi o primeiro país latino-americano a se tornar independente das potências europeias, em 1804. Liderados por Toussain L’Ourveture, os escravos haitianos fizeram uma revolução que expulsou os colonizadores franceses e pôs fim à escravidão no país.

A Revolução Haitiana ou Revolução Negra, como ficou conhecida, começou na verdade em 1791, quando milhares de escravos se revoltaram contra seus senhores e mataram muitos deles, tomando posse de suas terras. Naquela época, o Haiti era um dos principais exportadores de açúcar das Américas e a colônia economicamente mais importante para a França.

Os escravos eram 90% da população do país, enquanto os senhores brancos eram apenas 10%. Submetidos a um regime de trabalho extremamente injusto e explorador, a mortalidade entre os negros chegava a níveis estratosféricos, tanto que no início da revolução, em 1791, a maioria dos escravos tinha nascido na África e chegado ao Haiti menos de dez anos antes da primeira rebelião.

Inspirado no lema da Revolução Francesa (Igualdade, Liberdade e Fraternidade), Toussaint inicia a luta, que dura 13 anos. Nesse período, os haitianos enfrentaram 60 mil soldados ingleses, que intervieram para impedir que a revolução se expandisse para suas colônias, além de 50 mil soldados franceses, do exército de Napoleão Bonaparte, que naquela época havia vencido a maioria dos exércitos europeus, mas foi incapaz de vencer a resistência do povo haitiano. Foi uma luta encarniçada, mas os escravos conseguiram vencer todas as diferenças étnicas e culturais que eles traziam da África e se unir em torno da luta contra a exploração.

No dia 1º de janeiro de 1804 é declarada a independência do Haiti. O líder da revolução, Toussaint L’Ouverture, entretanto, foi preso e levado para a Europa, onde morre na prisão. Assume a liderança do país Jean Jaques Dessalines, também negro, ex-escravo e analfabeto. Após a independência, os haitianos assumem a posse das terras de seus antigos senhores e a dividem entre a população, estabelecendo a primeira sociedade livre dos povos negros nas Américas.

As invasões estrangeiras e a resistência do povo haitiano

No entanto, as classes dominantes dos países europeus e, durante o século 20, o imperialismo norte-americano, nunca admitiram a liberdade e a soberania, e se vingaram da ousadia haitiana intervindo militarmente no país inúmeras vezes: 1891, 1915, 1994 e 2004.

Além disso, as classes dominantes haitianas que surgiram após o processo de independência sempre tentaram impor seus interesses e atacar a liberdade do povo haitiano para colocá-lo novamente sob o jugo da exploração, realizando, para isso, sucessivos golpes de Estado.

Entretanto, o povo haitiano nunca esqueceu as raízes de suas históricas e sempre se rebelou quando qualquer injustiça era realizada em seu país. Porém, tantas invasões e ditaduras acabaram com a economia do país, que hoje é o mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo.

A última intervenção da ONU, liderada pelo Brasil, só fez piorar a situação, principalmente após o terremoto ocorrido em 2010, na capital, Porto Príncipe. Hoje, são quase 10 mil soldados estrangeiros que ocupam diversas cidades e o interior, numa intervenção que já custou R$ 1,3 bilhão, dinheiro que poderia ser usado para ajudar o povo haitiano.

O povo do Haiti não perdeu a esperança. Nos últimos meses foram registradas diversas manifestações pela retirada das tropas da ONU do país e contra o atual governo. Com isso, se coloca para nós brasileiros a necessidade de apoiar a luta dos trabalhadores haitianos por um país mais justo e igual, onde todos tenham direitos e acesso aos serviços básicos. Nosso país infelizmente cumpre um papel vergonhoso em participar da “missão de paz” da ONU. O Brasil pode e deve ajudar o povo haitiano, mas não com tropas, e sim com médicos, professores, tecnologia, etc.

Hoje, mais do que nunca, o povo do Haiti reafirma as palavras do libertador Toussaint L’Ouverture: “Eu quero que a liberdade e a igualdade reinem em São Domingos (nome do Haiti na época). Uni-vos irmãos e combateis comigo pela mesma causa. Arranquemos pela raiz a árvore da escravidão”.

Felipe Annunziata, Rio de Janeiro

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3 COMENTÁRIOS

  1. Maravilhosa matéria! Não conhecia a luta do povo haitiano e achava que eles eram acomodados e essa era uma das razões de sua miséria.

  2. Excelente, excelente.
    Penso que faltou você elucidar sobre a dívida que o Haiti foi obrigado a pagar à França por ter expulsado seus algozes. Foi esse o principal fator gerador da miséria no país.

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