Emocionante ato, realizado em 23 de outubro, marcou a fundação do Coletivo Feminista do IGc USP (Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo), com uma homenagem à Dinalva Oliveira Teixaira e discussões sobre a situação da mulher na Universidade e especificamente no curso de Geologia.
O coletivo foi nomeado de “Coletivo feminista Geóloga Dinalva” em memória dessa heroína do povo brasileiro. Dina, como era conhecida, é uma das militantes desaparecidas do Araguaia. Pertencia ao PCdoB e foi a única mulher a ser vice-comandante da guerrilha. Por sua habilidade militar e facilidade de escapar aos cercos montados pelo Exército havia um mito de que se tornava borboleta, o que inspirou a linda imagem utilizada pelo coletivo como logomarca. Dina era geóloga e na guerrilha também atuava como professora e parteira.
A importância de nomear o coletivo com essa lutadora do povo é muito significativa, tanto para homenagear na pessoa dela todas as mulheres que deram suas vidas por uma sociedade mais justa, como pelo fato de ser do curso de Geologia que vieram diversos militantes, exemplos da luta e resistência, que foram covardemente assassinados pela Ditadura Militar. Dentre eles Antônio Carlos Monteiro Teixeira, geólogo desaparecido no Araguaia em 1972, Alexandre Vanucchi, estudante da USP assassinado pelos agentes do DOI-CODI em 17/03/1973, e Ronaldo Mouth Queiróz, também estudante da USP, assassinado em 06/04/1973 por agentes do DOI-CODI.
As lutas travadas na Geologia são exemplo para o movimento estudantil e para todos/as nós. As mulheres geólogas há tempos vêm sofrendo com o tratamento desigual com relação aos homens na profissão. Um artigo publicado no jornal “Brasil Mulher”, nº 01, de 01/12/1975, trazia uma charge com um desenho de um prédio escrito “Petrobrás-BR” e logo abaixo os dizeres “menina não entra”, como maneira de denunciar que geólogas e químicas que quiseram prestar o concurso para a empresa foram barradas sob alegação de que o trabalho era insalubre. Hoje essa situação melhorou, mais há muito que avançar.
Por isso, e por todo o machismo existente nessa carreira, a iniciativa de criar um coletivo para organizar as mulheres e travar as lutas gerais e específicas do curso é muito louvável.
Na ocasião do ato, com o saguão lotado de estudantes, houve uma fala inicial com participantes do coletivo contextualizando a necessidade da organização das mulheres na Universidade.
Participaram Comissão da Verdade do Estado de São Paulo e do Movimento de Mulheres Olga Benário, falando sobre a história da Dinalva e relatando as opressões específicas vivenciadas pelas mulheres no período ditatorial. Também falaram as companheiras Agatha do coletivo Juntas, representando a Frente Feminista da USP, e Luiza Mançano da Marcha Mundial de Mulheres, estudante do curso de Letras, ressaltando a importância da organização das mulheres na Universidade e as lutas gerais e específicas de cada curso, bem como lembrando as situações de machismo existentes na Universidade como um todo.
Foi apresentado também um estudo por Mônica Perrota, representante do Comitê de Pró-equidade de gênero e raça da CPRM Serviço Geológico do Brasil, uma empresa pública de atuação na área, falando sobre as relações de trabalho, no qual é demonstrado como ainda hoje as mulheres estão em número menor nos cargos de chefia, mais ainda quando os cargos tem maior poder decisório. O estudo traz ainda as já conhecidas diferenças salariais para o mesmo tipo de trabalho, além do fato de, apesar de uma melhora, as mulheres terem mais dificuldade no ingresso na profissão do que os homens.
Também participou da atividade a professora Lucelene Martins, do Instituto de Geociências da USP, que falou sobre o machismo no Instituto
Foi apresentada, ainda, uma importante pesquisa feita pelo próprio Coletivo Feminista Geóloga Dinalva com as mulheres que frequentam o Instituto de Geociências, como professoras, funcionárias e as próprias alunas.
Encerrou-se a mesa com a fala do Felipe do USP Diversidades, um projeto que visa desenvolver ações de estímulo e promoção dos Direitos Humanos.
Todos os movimentos parabenizaram a iniciativa da formação do coletivo, especialmente em um curso onde o machismo é tão presente, e ressaltaram a importância da organização das mulheres, na transformação da Universidade e da sociedade em geral.
Que iniciativas como essa possam se reproduzir em todos os cantos do nosso país e que o movimento de mulheres como um todo possa se organizar, se unir e fortalecer essa luta, pois somente com as mulheres organizadas poderemos de forma efetiva transformar nossa realidade social.
Redação São Paulo