Os desafios da energia em Minas Gerais e a luta dos trabalhadores da Cemig

44

Everaldo - direto do SindEletroEveraldo Rodrigues, Coordenador Regional Norte do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Industria Energética de Minas Gerais (Sindieletro – MG), concedeu entrevista exclusiva ao Jornal A Verdade. Na entrevista Everaldo fala sobre a situação da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), condições a que são submetidos os trabalhadores da indústria energética mineira, expectativas do sindicato quanto o resultado das eleições para governador em Minas, além de analisar o 2° turno das eleições presidenciais em uma perspectiva sindical.

O Sindieletro – MG é referência no movimento sindical, vanguarda de inúmeras lutas em defesa do trabalhador eletricitário. Qual o papel do sindicato hoje?

Everaldo: Bem, o papel do sindicato hoje, extrapolou a questão corporativa. Temos uma ação voltada para construção da sociedade. O Sindeletro não se limita a estar nas lutas da CEMIG. Entendemos que o movimento sindical só pode sair vitorioso, só pode ter ganho político na essência, através cooperação com movimentos sociais e juventude. Fortalecendo assim, a classe que representamos, como também forças políticas aliadas.

Qual a análise que o sindicato faz da CEMIG em âmbito estadual?

Everaldo: A CEMIG hoje não atua apenas em âmbito estadual, é uma empresa que administra mais de cem empresas, não só em Minas. Diante disso, entendemos que a CEMIG não pode perder seu foco fundamental que é fomentar o desenvolvimento do estado de Minas Gerais, através da produção, transporte e distribuição de energia elétrica. Isso é mais um dificultador. A CEMIG se diversificou tanto, que é difícil manter a unicidade dos trabalhadores. A ampliação da terceirização e redução do quadro pessoal também dificultam a atuação do Sindieletro.

Porque a terceirização prejudica o trabalhador eletricista da CEMIG?

Everaldo: A terceirização é tratada pela CEMIG como forma de aumento da produtividade. Na verdade, ela tem única e exclusivamente, a finalidade de aumentar os lucros através do subemprego e da mais-valia. A cobrança do aumento de produtividade com fornecimento equipamentos de baixa qualidade, torna o trabalho do eletricitário, ainda mais insalubre e perigoso. A cada 45 dias, um trabalhador sofre acidente fatal em serviço.

Quais os principais problemas da CEMIG no Norte de Minas?

Everaldo: Não dá para enumerar –risos-. Os problemas vão da política de centralização e fechamento de agências até a falta de renovação dos quadros funcionais, realidade dos 12 anos de gestão do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) sobre o Estado mineiro. É crescente, também, o déficit de mão de obra e de conhecimento técnico. O sucateamento das redes é um dos piores problemas. Por exemplo, Montes Claros, tem a subestação Montes Claros 3 que já deveria ter sido construída a mais de 5 anos. Não se pode ligar uma nova indústria em Montes Claros, porque não é possível cobrir a demanda. Ao norte de Montes Claros, existe um gargalho estrutural nas linhas de transmissão, que pode colocar em risco todo fornecimento energia elétrica para a região. Por fim, o objetivo da empresa é o aumento dos lucros, em detrimento de redução de investimentos necessários em infraestrutura, sempre cobrando aumento da produtividade.

Você comentou sobre a gestão de 12 anos do PSDB em Minas Gerais. Qual a relação do governo estadual com o sindicato?

Everaldo: É até difícil falar porque não tem relação. Quando conquistamos algum diálogo com o governo, é através da direção da CEMIG, e mesmo assim, é muito restrito: somente questões básicas ou situações críticas. As principais medidas da gestão do PSDB são voltadas para os interesses de acionistas e seus lucros. A gestão da CEMIG deveria pautar em primeiro plano o respeito a classe trabalhadora. Logo, tomamos posição enquanto oposição ao governo, pela forma com que ele vem conduzindo a CEMIG e outros seguimentos da sociedade.

Quais as expectativas da direção do Sindieletro- MG para o novo governo de Minas Gerais, agora sobre direção de Fernando Pimentel do Partido dos Trabalhadores?

Everaldo: A expectativa é positiva. As bandeiras colocadas durante a campanha de Pimentel, passam pela questão reconstrução das empresas estatais. Sobre possibilidade de perda de apoio, ele defendeu pautas como a revisão dos dividendos da CEMIG. O que não podemos achar, que por ser um governo progressista, mais à esquerda, nossas lutas ficarão de lado. Mais do que nunca devemos nos posicionar de maneira firme e critica e fortalecer o sindicato diante esse novo cenário.

Sobre o senador Aécio Neves, ex-governador de Minas, disputar a presidência, qual é a análise da direção?

Everaldo: Não temos dúvidas que Aécio não é a pessoa mais indicada para governar o país. Conhecemos bem a forma que ele governou o estado de Minas. Amordaçou as mídias, usou de empresas públicas para fortalecer “caixa” de campanha, as ingerências na saúde, na educação pública. A própria CEMIG é um exemplo, temos a tarifa mais cara do Brasil em decorrência de alíquotas de impostos extremamente altas, podendo chegar até 40% do valor total de uma conta de luz.

Tem alguma consideração para encerrar entrevista?

Everaldo: Como o Jornal A Verdade, a UJR, o próprio PCR, o recado que fica é que a luta não pode parar. É importante o que vocês fazem, porque precisamos fortalecer a luta e permitir sua continuidade. Esse é o grande ganho por estar levando nossa bandeira para a sociedade, agregar o movimento sindical, os movimentos sociais. Não podemos deixar lacuna no movimento, temos que estar buscando a reformulação e ampliar a participação popular. É importante ampliar o controle social nas empresas públicas, nos mandatos, na sociedade como um todo, para prevenir problemas e escândalos em questões políticas do Brasil.

Gabriel Lopo, Montes Claros – MG