Os Centros Populares de Cultura foram organizados na década de 1960, numa época de efervescência social no Brasil. O povo brasileiro tocava um vigoroso processo de lutas naquele período em nosso país. O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) realizava greves, as Ligas Camponesas mobilizavam o campo, e a União Nacional dos Estudantes, contando com o apoio do CPC, colocava-se em movimento pela reforma universitária. O governo progressista de Jango, ao propor as chamadas reformas de base, entrava em conflito com os interesses dos setores empresariais e latifundiários, apoiados pelo imperialismo norte-americano. Estes arquitetam o golpe que colocaria o Brasil no rumo do injusto desenvolvimento capitalista, ampliando as desigualdades sociais, o endividamento público, além da já conhecida política de tortura e assassinatos dos militantes e intelectuais que pediam por democracia.
Antes e durante a Ditadura, os movimentos culturais da juventude cumpriram também um papel de resistência, seja no teatro de Arena, de São Paulo, ou nos CPCs espalhados pelo Brasil, ou mesmo após o golpe, com o Show Opinião. Os artistas e intelectuais faziam da cultura crítica uma trincheira de luta que buscava resgatar o “sentimento de pertencimento”, de uma vontade coletiva, entre os brasileiros. Fruto desse movimento, destacam-se as produções teatrais que dramatizavam questões como a dominação imperialista, a elitização do ensino superior e o subdesenvolvimento.
O renascer do CPC em Campos dos Goytacazes
O grupo socialista CPC Pedreiro Amarildo, fundado em Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense, propõe resgatar a tradição da arte engajada, tão necessária nos dias de hoje. É uma entidade cultural de agitação política, que está em turnê com a peça teatral Escravos Modernos, que trata de forma simples a condição de exploração do povo trabalhador. Já em sua primeira apresentação na UFF, a peça foi recebida com entusiasmo pelos estudantes. Entretanto, não nos limitaremos ao âmbito do movimento estudantil, e estamos caminhando em direção aos assentamentos de trabalhadores rurais e nos colocando à disposição dos sindicatos de luta dos trabalhadores.
Entendemos que ajudar a contar a história dos trabalhadores e trabalhadoras que construíram tudo que aí está é uma das tarefas mais importantes que temos com a arte. No Município de Campos, os índios Goytacá, primeiros habitantes destas terras, foram expulsos pelos colonizadores. Guerreiros, sua história continua na periferia do conhecimento.
Aos negros escravizados que construíram o canal Campos-Macaé sobraram os guetos e as “casas populares”, novas favelas com superfaturados cimentos coloridos. Com os camponeses não é muito diferente. Cortaram cana de sol a sol para os usineiros como escravos, e infelizmente continuam nos dias de hoje na luta pela terra, sem obter grandes conquistas na região. A cultura das elites se impõe. Os fazendeiros são homenageados com seus nomes em ruas da cidade, enquanto lideranças dos trabalhadores continuam completamente desconhecidas. É preciso valorizar a cultura popular, trazendo as consciências das pessoas para a luta.
A trincheira cultural
Em um cenário de crise do capitalismo mundial, não devemos nos iludir de que o sistema está em crise de hegemonia, ou seja, a ideologia das elites permanece predominante, ditando a tônica das artes, fortalecendo o comportamento individualista, cumprindo seu papel de confundir as pessoas. O discurso da intolerância contra as chamadas minorias, por exemplo, está em alta. É uma verdadeira ascensão dos setores fundamentalistas no Brasil, utilizando o discurso de ódio e preconceito, comprovando para nós o caráter fascista da extrema-direita raivosa.
É necessário despertar mais e mais as pessoas à medida que a crise se agrave e a insatisfação se acentue no seio da sociedade. Por isso, dizemos que é fundamental fortalecer as mídias independentes. Jornais como o A Verdade, sites, canais no YouTube, revistas, as redes sociais, as rádios comunitárias, etc., são poderosos espaços de resistência. É preciso também utilizar os mais diversos campos da arte para motivar e organizar a nossa juventude. Seja pela música, pelo teatro, pela literatura, pela produção audiovisual, enfim, seja lá como for, a juventude está convocada a criar revolucionariamente, como criava os CPCs da UNE, agora, no entanto, com maior diversidade de mídias. Hoje temos a internet, diferente do que tinham os CPCs, em 1961.
Temos que ocupar os espaços e criar novos espaços da classe para a classe, resgatando a tradição dos Centros Populares de Cultura no país e fortalecendo o ideário revolucionário, movendo para frente a luta antifascista e anticapitalista.
Bruna Machel, secretária de Movimento Social do CPC Pedreiro Amarildo