“O sangue que o Santo derramou foi em favor da luta operária. Para todos os operários que não acham que é certo morrer assim, pense: só se consegue as coisas quando se luta. Eu sei que se ele não tivesse morrido, e tivesse ficado ferido, ele não ia ter medo, ia ter ficado lutando até a vitória final da classe operária”, Ana Dias, esposa de Santo Dias.
No dia 30 de outubro de 2014, completaram-se 35 anos do assassinato do operário Santo Dias da Silva.
Natural de Terra Roxa, interior de São Paulo, Santo Dias nasceu em 1942. No ano de 1962, depois de sua família ser expulsa de onde morava, Santo vai para a capital do Estado em busca de uma vida melhor.
Santo Dias e a Pastoral Operária
Participante ativo da Igreja Católica e membro da Pastoral Operária, Santo Dias acreditava e lutava por um mundo do trabalho digno e justo. Dizia: “viver só tem sentido se for para transformar alguma coisa”. Santo representava os leigos na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Organizou grupos de base com seus companheiros de fábrica e fez parte da chapa da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM), em 1978, junto com Waldemar Rossi.
No primeiro dia da paralisação dos metalúrgicos por melhores condições de trabalho, em 1979, as subssedes do Sindicato foram invadidas pela Polícia Militar, que prendeu mais de 130 pessoas. Sem o apoio do Sindicato e com a intensa repressão policial, alguns dos metalúrgicos passaram a se reunir na Capela do Socorro, na Zona Sul, região de atuação militante de Santo Dias.
No dia 30 de outubro, o comando de greve se encontrou na Capela do Socorro e seguiu para o piquete do turno da tarde em frente a fábrica Sylvânia.
Com a chegada da Polícia, a truculência foi terrível. Quando Santo tentou impedir que alguns policiais militares agredissem outro metalúrgico, foi, aos 37 anos, executado com um tiro à queima-roupa disparado pelo soldado Herculano Leonel.
O corpo de Santo Dias poderia ter desaparecido, se não fosse a coragem de Ana Dias, sua esposa, que entrou e seguiu no carro que transportava o corpo do operário ao Instituto Médico Legal.
O assassinato de Santo Dias não interrompeu a luta operária; pelo contrário, ampliou-a pela derrubada da Ditadura Militar. No dia seguinte à sua morte, foi realizada uma missa de corpo presente na Catedral da Sé, celebrada pelo então cardeal dom Paulo Evaristo Arns. A Catedral ficou pequena para as 40 mil pessoas que participaram da missa e saíram às ruas acompanhando o enterro e protestando contra a morte do líder operário, pelo livre direito de associação sindical e de greve e contra a Ditadura.
O nome de Santo Dias consta no “Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos no Brasil (1964-1985)”, organizado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e é um dos casos da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
Todos os anos, parentes, amigos e companheiros de militância relembram a morte de Santo pitando palavras de ordem e a marca de seu corpo caído em frente à fábrica.
Ana Rosa Carrara, MLC São Paulo