Nós do Movimento de Mulheres Olga Benário tivemos o desprazer de presenciar mais uma vez um caso de violência contra mulher. No último domingo, dia 12 de abril, estávamos reunidas na casa de uma companheira quando ouvimos os gritos desesperados de uma mulher indagando porque seu namorado havia queimado suas roupas e seus documentos. Atitude essa que reflete a dominação do homem sobre o corpo da mulher; sendo um dos maiores impulsionadores de casos violência. Após alguns minutos de discussão ela arrumou as malas pra ir embora e quando foi sair o homem impediu agredindo-a, foi quando nós intervimos. Ela quando nos viu prontamente pediu socorro e para acionar a polícia. Conseguimos tirá-la do apartamento com seus pertences e poucos minutos depois o agressor fugiu, numa tentativa covarde de intimidá-la, fazendo sentir-se culpada.
Os policiais demoraram mais de uma hora para chegar e ao chegarem representaram a estrutura machista do Estado burguês que defendem. Os mesmos disseram não poder resolver a situação, visto que se tratava de “briga de marido e mulher”. Pedimos então para levarem-nos a delegacia da mulher e em tom de brutalidade um policial respondeu “entrem logo no carro porque temos mais o que fazer!”. Se não bastasse isso, as intimidações continuaram dentro da viatura até a chegada à delegacia. Com gritos, continuaram a agredir verbalmente a vítima, tentando coagi-la a não denunciar o agressor, dizendo que isso não era nada e que ela não deveria ter se envolvido com aquele homem.
Na delegacia tivemos conhecimento que tinham outras denuncias de violência contra a mulher cometida por esse mesmo agressor. Também foi relatado pela vítima que ela acabava de chegar de outro Estado para morar com ele e, desde então vinha sofrendo diariamente agressões como puxões de cabelo, cuspida no rosto, puxões pelo braço e o celular destruído.
Também, recebemos da delegada plantonista, Dra. Paula, os dados de que eram registrados diariamente em média de 50 casos de violência contra a mulher, dentre eles inúmeras denúncia de estupros, inclusive horrendos casos de estupros coletivos ocorrendo à luz do dia no centro da cidade! Isso nos leva a refletir o quão sistemática é a violência contra a mulher, tendo em vista que, só no ano de 2014 foram registradas 70.391 ocorrências (ameaças, lesão corporal, estupros, feminicídios consumados e tentados) no Estado do Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.
A delegacia estava lotada, com mulheres de todas as faixas etárias, corajosamente denunciando seus agressores. Conhecemos ali uma mulher negra que estava registrando ocorrência contra seu ex-marido por perseguição e tentando vaga em um abrigo, porém o único que tinha vagas não recebia mulheres depois de um determinado horário. Por fim, as duas mulheres não tinham para onde ir, então abrigamos essas duas companheiras.
As consequências da ineficiência do Estado ao não cumprir a Lei Maria da Penha, refletem diretamente na não diminuição da violência contra a mulher em todos esses 08 anos da Lei. Isso porque, a estrutura precarizada das delegacias com o despreparo dos policiais e demais profissionais da polícia, a falta de abrigos etc, fazem com que as vítimas não se sintam acolhidas e tampouco protegidas para fazer a denúncia. Ao chegarem na delegacia são recebidas com perguntas discriminatórias e vistas com desconfiança como se as vítimas desejassem serem violentadas. Antes de terem os seus direitos garantidos, passam por uma avaliação moral de seu comportamento.
Todas essas situações a que nós mulheres somos submetidas cotidianamente é reflexo de uma sociedade patriarcal capitalista, que promove um verdadeiro genocídio e inegavelmente a opressão sempre recai com mais força nas mulheres pobres. E é com o objetivo de organizar essas mulheres, que o movimento Olga Benário se dispõe na luta por uma sociedade socialista, onde as nossas vidas estejam acima do lucro!
Movimento de Mulheres Olga Benário – RS