No ultimo dia 8 de junho, a justiça americana mandou soltar Albert Woodfox, ex-integrante do Pantera Negra, após ter passado 43 anos em uma solitária. Albert foi preso por roubo no final dos anos 60, durante uma campanha do FBI para desmantelar o movimento negro americano, que tinha no partido dos Panteras Negras a maior referência, sobretudo após o assassinato de Malcolm X em 65, na luta contra a segregação e racismo que imperava no país, de forma aberta, naquela época. Em 1972, já na cadeia, Albert recebeu nova acusação: ter assassinado um dos carcereiros à faca. Levado para a solitária passou os últimos 43 anos totalmente isolado, tendo como direito apenas uma hora de banho de sol por dia.
A soltura de Albert Woodfox acende o debate sobre os falsos mitos dos direitos humanos e da democracia norte-americana. Na verdade, a acusação de assassinato dentro da própria cadeia foi para calar Woodfox, que não parou de exercer sua militância e organizava os próprios presos dentro da cadeia. Sua principal bandeira era o questionamento dos abusos sofridos pelos detentos e a falta de direitos humanos nos presídios americanos. Com o advogado cedido pelo partido e negado pelo tribunal, uma das testemunhas de acusação ser um cego, a própria viúva de o carcereiro assassinado ter alegado a inocência do acusado, a prisão foi revogada três vezes seguidas sobre o argumento de racismo no julgamento e até o polígrafo (detector de mentiras) ter atestado a inocência do mesmo, Albert Woodfox e mais dois companheiros líderes dos Panteras Negras (Robert King, solto em 2001, depois de 29 anos de cadeia e Herman Wallace, que morreu em 2013, três dias depois de ser solto, vítima de câncer no fígado. Só foi solto por conta da saúde fragilizada) continuou preso de maneira arbitrária e com a conivência do Estado. Um prisioneiro político.
Albert Woodfox foi o ultimo dos chamados “Três de Angola”, nome dado à penitenciária em Louisiana, construído em uma antiga plantação onde negros escravos realizavam trabalhos forçados. Ele sai da cadeia depois de 43 anos, a saúde totalmente debilitada pelas condições de sua prisão. Ele adquiriu diabetes, insônia, hipertensão e problemas renais devido aos anos de reclusão.
Sem dúvida, a prisão de nomes como Albert Woodfox ou Abu-Jamau, outro ex-líder dos Panteras Negras, também preso por sua militância desde 81, mostram como a repressão sobre o movimento negro americano, o racismo e a perseguição aos grupos políticos de esquerda estão enraizados na sociedade norte-americana. Os EUA são pioneiros na criação de cadeias privadas, totalmente alheias aos direitos humanos em detrimento do lucro fácil. Até a quantidade de presos é motivo para lucrar, porém, apesar do país ainda possuir a maior população carcerária do mundo (2,3 milhões de pessoas, segundo pesquisa de 2009 do King’s college London, uma das maiores instituições de ensino superior do Reino Unido) está longe de resolver problemas crônicos como a violência, a reeducação do detento ou o fim da segregação racial, ainda presente no país. Mais: estima-se que cerca de 50 mil presos americanos vivem em solitárias, o que segundo a ONU é um tipo de tortura, como ocorre na base de Guantánamo (presídio estadunidense no território cubano de segurança máxima) denunciada diversas vezes por órgãos internacionais de direitos humanos e movimentos sociais, inclusive americanos.
É inaceitável ter em pleno século 21 seres humanos serem tratados como na época da Idade Média, presos em verdadeiras masmorras e esquecidos do tempo e do mundo. Ainda mais: como um país que se diz o berço da democracia pode conviver com esse tipo de realidade? É mais uma mentira e uma falsa máscara que cai por terra dessa farsa chamada capitalismo. Uma sociedade que se diz defensora dos direitos humanos e possui esse tipo de tratamento não pode ser considerada uma nação livre, muito menos democrática. A realidade é outra: capitalismo e liberdade são duas coisas que não se misturam, de forma alguma.
Cloves Silva
Militante do MLC-PE