A Região do Grande ABC Paulista é composta por cidades metropolitanas do Estado de São Paulo, dentre elas São Bernardo do Campo, cidade mais rica da região, com maior população e área territorial, sendo uma das potências do país. Nos anos de 1978, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar, a região ficou conhecida pela luta dos operários, que desencadearam uma série de imensas greves.
Desde a década de 1950, o Município de São Bernardo tem sua economia baseada na indústria automobilística – sede das primeiras montadoras de veículos do Brasil, tais como Volkswagen, Ford, Scania, Toyota, Mercedes-Benz, além das indústrias de autopeças que as suportam, de indústrias de tintas, como a Basf, que produz as tintas Suvinil, e da maior planta industrial do mundo de dentifrícios da Colgate-Palmolive.
Com todas essas características, a necessidade de uma profunda reforma urbana nas cidades do ABC é urgente. São Bernardo viu, na última década, o número de famílias que vivem de forma inadequada mais que dobrar. De acordo com o IBGE, em 2000, o déficit habitacional da cidade era de 12 mil unidades. Atualmente, dados da Secretaria de Habitação apontam que esse número chega a mais de 35 mil.
Por esses motivos, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) está organizado em sete bairros da cidade núcleos que realizam reuniões semanais para debater e estudar com as famílias que não possuem moradia própria o problema do déficit habitacional. Boa parte dessas famílias vive de aluguel, moram de favor ou em áreas de risco. Os preços dos alugueis na cidade dispararam e quem mora de favor sente a humilhação que passa diariamente, sem contar as que vivem em áreas de risco e não tem para onde ir.
Nas reuniões do MLB são feitos estudos e debates sobre o Estatuto da Cidade, o Plano Diretor e a Constituição Brasileira, no que diz sobre o direito à moradia digna e organizadas panfletagens e a divulgação do movimento para que mais pessoas participem.
Como sempre, muitos chegam com dúvidas sobre as ocupações urbanas e, quando é terminada uma reunião, agradecem e logo se dispõem a ajudar, crescer, desenvolver o movimento, propagandear, realizar brigadas nas feiras colagem de cartazes e atividades culturais, como almoços beneficentes, bazar, etc. Todos esses trabalhos nos bairros estimulam o espírito coletivo, educando o povo pobre para a necessidade de lutar e construir uma sociedade socialista.
Com as atividades dentro e fora das reuniões, podemos notar que os bairros vêm se fortalecendo e provando a solidariedade do povo pobre diante das dificuldades. Cada companheiro tem a tarefa de contribuir com a luta, garantir que haja reuniões e que se espalhe a luta do MLB por mais locais. Se hoje estamos em sete bairros é porque crescemos e é sinal que vamos crescer muito mais. Que jamais se duvide da união e da capacidade de mobilização do povo!
Hoje, o principal debate nos núcleos do MLB são as medidas que os governos vêm tomando contra a classe trabalhadora. Apesar de termos os planos diretores das cidades e o direito assegurado pela Constituição, o que vemos é a política urbana sempre submetida à vontade dos grandes proprietários de terras nas cidades. A forma como estão sendo construídas moradias populares privilegia mais as construtoras do que resolve o problema habitacional. Sabemos que os recursos nas mãos do movimento permitem a construção de muito mais moradias do que nas mãos das construtoras uma vez que o movimento irá visar à quantidade e a qualidade de casas, já as construtoras visam só o lucro!
Ou aceitamos essas injustiças de cabeça baixa ou mudamos essa realidade com a luta. Se o governo está cortando nossos direitos, se estão cortando verbas nas áreas sociais e colocando representantes que são inimigos do povo, o povo responde indo à luta com mais ocupações urbanas, greves e manifestações nas ruas.
Enquanto essa pequena parcela da sociedade que tem o controle dos meios de produção e explora o trabalhador mandar nas políticas de nossas cidades, dizendo onde o povo trabalhador pobre fica, segregando a cidade entre ricos e pobres, ditando como deve ser o zoneamento da cidade e as formas como são feitas as moradias, fica difícil o diálogo e a realização de uma reforma urbana.
Para isso, o primeiro passo do MLB na região do Grande ABC é organizar reuniões e debates nas periferias e estar mais próximo das camadas mais humildes da sociedade. Denunciar mais e mais a especulação imobiliária e aumentar as ocupações em terrenos ociosos.
Lucas Barbosa, coordenador do MLB no ABC Paulista