No último dia 27 de julho, ocorreu na OAB/RJ um ato em memória das onze vítimas da chacina de Acari. O evento intitulado “Mães de Acari, 25 anos” contou com a presença de duas das mães de Acari, Ana Maria da Silva e dona Tereza Souza, além da filha de Vera Lúcia, Aline Leite.
Também estiveram presentes outras mães de vítimas da violência, como Ana Paula (Manguinhos), Dalva (Borel), Dos Anjos (Vigário Geral) e Irone (Maré). A OAB foi representada por Marcelo Dias, da Comissão de Igualdade Racial, e a Anistia Internacional por Renata Nader.
A Chacina de Acari aconteceu no dia 26 de julho de 1990, quando moradores da favela da Zona Norte carioca, na maioria jovens, foram sequestrados por policiais em um sítio na cidade de Magé, na Baixada Fluminense. Em seguida, as vítimas foram levadas para o local de execução até hoje não encontrado. Seus corpos permanecem desaparecidos.
Os policiais em questão faziam parte do 9º Batalhão da PM (hoje 41º) e integravam o grupo de extermínio “Cavalos Corredores”, chefiados pelo ex-deputado e coronel Emir Laranjeira. O grupo, que era conhecido por entrar na favela como uma verdadeira “cavalaria montada”, disseminando terror entre os moradores, esteve envolvido em outras chacinas, como a de Vigário Geral, em 1993
Impunidade
Em todos esses anos, a Justiça atuou com flagrante omissão. Várias valas de desovas de cadáveres não foram periciadas, e até uma kombi cheia de sangue encontrada posteriormente foi descartada como possível prova. “Sempre falavam que tinha um cemitério; ai a gente ia lá e nada”, relata Ana Maria da Silva, uma das mães.
Essa indiferença do Estado em relação à chacina é alimentada pelo senso comum e pela opinião disseminada pela grande mídia de que os jovens “eram criminosos, pelo simples fato de serem pretos e pobres”, explica Dona Tereza, outra mãe. O inquérito referente à chacina foi encerrado por falta de provas em 2010, e ninguém foi indiciado.
Segundo Renata Neder, a Anistia Internacional recebeu denúncias das mães de Acari de ameaças policiais: “Vocês vão sofrer coisa pior do que os seus filhos”. O temor das Mães de Acari se confirmou em 20 de julho de 1993, quando foi assassinada a mãe Edméa da Silva.
Mães de Acari: exemplo de luta por justiça
Para Deley de Acari, militante de direitos humanos da favela e do Círculo Palmarino, organização que promoveu o evento, “a pior coisa é o esquecimento para quem passou por uma violência como esta. Por isso, mesmo com todas as dificuldades a gente tem que continuar nesta luta”, disse.
De fato, em que pese as inúmeras dificuldades para a continuidade desta luta, as Mães de acari servem de inspiração para as famílias de outras vítimas da violência policial, como as “Mães de Maio” (SP) e as “Mães de Vigário” (RJ), por exemplo.
Em 2014, a Justiça do Rio de Janeiro encaminhou para julgamento os sete acusados pela morte de Edméia, graças a um testemunho de que o assassinato da diarista havia sido planejado no gabinete do deputado Emir Laranjeira. O processo atualmente aguarda os recursos, mas a pressão deve continuar pela punição dos assassinos.
Como disse Ana Paula, mãe da Favela de Manguinhos, “onde houver uma mãe gritando todas estarão representadas”.
Esteban Crescente, Rio de Janeiro