Por volta das duas da manhã, mais de 300 famílias organizadas pelo MLB, em Diadema, realizaram no dia 28 de junho, a 4ª ocupação na cidade, em um terreno localizado no bairro do Inamar. O nome da ocupação, Zumbi dos Palmares, foi escolhido pelas próprias famílias, em eleições que aconteceram nos núcleos do movimento. Para Marcio Alves, um dos coordenadores, a escolha desse nome não poderia ser melhor “Zumbi lutou pela libertação de seu povo e nós somos herdeiros de sua luta e resistência”!
Em Zumbi dos Palmares as decisões são tomadas em assembleia, onde também são debatidos assuntos como reforma urbana ou a luta contra a redução da maioridade penal. Os barracos, ainda de lona, têm o mesmo tamanho e foram construídos por uma comissão de estrutura, que trabalhou sem descanso nos primeiros dias. Ruas largas foram garantidas. A creche, batizada Jonathan Oliveira, funciona o dia todo. Na cozinha coletiva, todos tomam café da manhã, almoçam e jantam. À noite, companheiros e companheiras se revezam para garantir a segurança. Aulas públicas, seções de cinema, apresentações musicais, “dias da beleza”, futebol e pipa já ocorreram na ocupação.
Segundo Adilson dos Santos, “a ocupação é o maior e melhor meio de lutar pelo direito à moradia. Ela faz com que todos tenham um avanço na consciência”.Para Thiago Severino, “a ocupação é uma experiência diferente de qualquer outra, sem igual, o convívio com outras pessoas, com ideias diferentes, mas que na luta, nessa convivência, conseguem viver juntas e se unir para decidirem seu futuro”.
A solidariedade dentro e fora da ocupação é muito grande. Uma grande rede de apoio foi construída, que vai desde advogados e arquitetos, como OAB, Defensoria Pública, Observatório das Remoções, PEABIRU e ONG’s da região, até trabalhadores que moram na vizinhança e diariamente doam alimentos, roupas e cobertores.
A ocupação, portanto, cumpre muitos papéis: o de pressionar o Poder Público para cumprir seu papel, de assegurar o direito à moradia; o de denunciar para a sociedade que existem muitos terrenos vazios, que não cumprem função social alguma; o de educar o povo, de mostrar que é possível viver de uma maneira diferente, solidária, na qual os próprios trabalhadores assumam o controle das decisões e de suas vidas.
As negociações
Os primeiros dias foram de muita tensão. A polícia tentou proibir a entrada de alimentos, água e até das crianças. Quando os proprietários entraram com o pedido de reintegração de posse, o movimento conseguiu que a juíza convocasse a prefeitura para uma audiência. Na ocasião, o representante do município deveria apresentar uma solução para as famílias. Porém, após duas audiências, a Prefeitura não apresentou nenhuma proposta concreta. O movimento conseguiu um prazo para permanecer no terreno, que expirou no dia 19 de julho.
A partir daí, o movimento organizou duas grandes manifestações, que pararam toda a região conhecida como ABC e utilizou a tribuna da câmara, para cobrar do legislativo que criasse uma comissão de vereadores que intermediasse as negociações. Graças a essas lutas e à participação massiva do povo, o movimento conseguiu garantir a retomada das negociações. A Prefeitura propôs um novo terreno, já que o outro – pelo qual se luta desde 2012 –aguarda a morosidade da justiça há anos. A Caixa Econômica Federal também tem participado das negociações. A Defensoria Pública entrou com uma petição exigindo que o proprietário e a Prefeitura seguissem algumas exigências para cumprir a ordem da reintegração. Dentre elas estão a garantia de abrigo, uma ambulância do SAMU, a presença do Conselho Tutelar e os meios para que os pertences das famílias sejam retirados. Essas exigências foram aceitas pela juíza e até o momento não há previsão para a saída das famílias do terreno.
O futuro é de lutas
Mesmo com todos esses avanços, os moradores da ocupação não tem mais nenhuma ilusão com as promessas da Prefeitura: “Na ocupação anterior, o Prefeito veio até aqui e se comprometeu pessoalmente em resolver o problema. Não resolveu até hoje. Por isso, sabemos que só com muita luta e pressão, seremos vitoriosos”, afirma Marcio Alves, um dos coordenadores do MLB.
Conscientes de que apenas a luta poderá garantir a moradia digna e uma cidade mais justa, os moradores da Ocupação Zumbi dos Palmares preparam novas mobilizações.
Carol Vigliar é do Movimento de Luta nos Bairros – MLB