Caminhar sem bandeiras é caminhar sem rumo

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Marcelo Rivera
Marcelo Rivera

Desde o dia 13 de agosto, dia da greve geral nacional, o Equador vive um momento novo no desenvolvimento do movimento social e popular; as organizações convocantes saíram fortalecidas e com um importante apoio em amplos setores da população. Neste marco, é inegável que os partidos e movimentos de esquerda estão posicionados como forças políticas com profundas raízes no movimento indígena, entre os trabalhadores, os camponeses, professores, estudantes e demais setores que estão lutando contra as políticas do governo correísta.

Esta realidade gerou preocupação em algumas pessoas que gritam aos quatro ventos: “o movimento social deve participar sem bandeira políticas e como cidadãos”. Esta afirmação é oportunista e reacionária e usanda de sempre a direita pretende desarmar politicamente o movimento social; de maneira insistente a oligarquia faz campanha em prol do ‘apoliticismo’, e quando esta fórmula não dá resultado, recorrem ao velho e desgastado argumento de ‘lutar sem bandeiras políticas’.

A política é a atividade dos que governam ou aspiram a governar os assuntos que afetam a uma sociedade ou a um país. Por óbvio, as classes dominantes são as mais interessadas em evitar que os trabalhadores, a juventude e os povos elevem sua consciência ideológica e política e nunca aspirem a governar, desviando do caminho para a conquista do poder como objetivo central de toda a luta política séria.

A direita se assusta quando os setores populares fazem ativismo político e sentem pavor se algum partido ou movimento de esquerda se desenvolve em meio à luta popular. Sabem perfeitamente que um movimento social organizado, politizado e conduzido pela pela esquerda jamais limitará a luta só aos aspectos meramente reivindicativos. Sempre apontará seus esforços a clarificar o caminho para a tomada do poder

Nesta etapa de mobilização social, a direita esta fora do governo. Buscou envolver-se no movimento de diversas maneiras: falaram das reivindicações do povo, apoiaram as convocatórias às mobilizações, chamara a tomar as praças e ruas. Mas como foram rechaçados pelas organizações, não lhes restou outra alternativa se não marchar atrás do movimento popular.

A direita quer aproveitar este momento de mobilização para tirar alguns êxitos eleitorais. Tal como diz o slogan: “querem pescar em rio revolto”. Neste contexto, levantam a consigna de nos unirmos “todos sem bandeiras políticas”. Claro, querem aparecer como “cidadãos” inocentes que lutam junto ao povo de maneira desinteressada. Nesta armadilha suja caíram alguns ativistas sociais bem intencionados, com o argumento de que a população não participa da luta por causa dos partidos políticos.

Ao aceitar estes argumentos, o movimento popular e social abriria as portas a todos os “cidadões” que estão contra o correismo: dessa maneira, viria o cidadão Álvaro Noba, o cidadão Guilherme Lasso, o cidadão Abdalá Bucarám, o cidadão Lúcio Gutiérrez e qualquer outro personagem de nefasta recordação em nossa história. Eles viriam em iguais condições com os demais cidadões trabalhadores do campo e da cidade. Fica claro que o conceito enganoso de “cidadania” não é mais que um cavalo de Troya da direita.

Caminar sin “banderas políticas”, es en los hechos caminar sin rumbo, luchar como nunca y perder como siempre, que el pueblo luche con denuedo contra el régimen de turno, para luego en elecciones votar por los mismos personajes de la derechaque escondieron sus banderas, sus garras y sus dientes.

Caminhar sem “bandeiras políticas” é, de fato, caminhar sem rumo, lutar como nunca e perder como sempre. É fazer com que o povo lute com força contra o regime de turno para logo, nas eleições, votar pelos mesmos personagens da direita que esconderam suas bandeiras, garras e dentes.

Marcelo Rivera, ex-presidente da Federação dos Estudantes Universitários do Equador – FEUE e ex-preso político do governo Correa.