O fim do ano não representa o fim dos problemas para professores e estudantes do estado de São Paulo. Pelo contrário, desde setembro a precarização e os ataques do governo vêm se intensificando contra a educação pública paulista.
Que a escola pública precisa de uma reorganização ninguém discute. Mas a decisão do governo Alckmin vai na contramão do que é preciso fazer. Enquanto se cobra a abertura de mais turmas para eliminar a superlotação, teremos escolas sendo fechadas. Enquanto se exige a contratação dos professores aprovados no último concurso, estamos prestes a ver dezenas de milhares ficarem sem emprego ano que vem. Enquanto todos concordam que é preciso aumentar os investimentos na educação, o governo do PSDB quer economizar milhões.
Mais uma vez vemos a cara de pau do governador para apresentar argumentos contrários ao que ele realmente fará. Assim como prometeu que não faltaria água ou que São Paulo seria um lugar seguro para viver, agora ele promete que a educação paulista vai melhorar. Acontece que no ano de 2014 o estado de São Paulo teve nota abaixo da meta para os índices nacionais.
Os outros argumentos são ainda piores:
A justificativa de que separar ciclos aumenta a qualidade é mentira, visto que países com educação de qualidade – como Noruega e Finlândia – seguem a tendência de eliminar as séries e matérias construindo um conhecimento único e interdisciplinar e integrando estudantes de idades diferentes. A pedagogia não é preocupação do governo tucano.
A história de que existem vagas ociosas é uma das maiores mentiras já ditas nos últimos vinte anos do PSDB no governo de São Paulo. Afinal, salas com mais de quarenta alunos são comuns. Jovens em idade escolar existem aos montes, o que não existe é incentivo para que eles frequentem a escola pública. Então, ou largam os estudos ou migram para a escola particular quando podem.
A história de que será possível adaptar prédios aos ciclos oferecidos é outra balela. Já são anos em que as verbas para educação são cortadas e neste ano muitas escolas receberam metade da verba do ano passado. No segundo semestre as escolas não têm papel higiênico para os estudantes e até a merenda está sendo racionada. Material escolar é uma raridade e o programa de distribuição de livros foi cancelado para economizar.
O artigo do secretário da educação diz que não devemos reduzir a educação a uma escala de proficiência. Mas o que significa atrelar o trabalho do professor a um bônus que varia de acordo com as notas dos estudantes no SARESP? Decidir a escola que abre ou fecha turmas baseado nas notas do SARESP não é reduzir tudo a uma proficiência?
O fato é que toda a população será atingida com a desorganização que acontecerá em 2016. Pais e mães terão que mudar suas rotinas para levarem seus filhos nas escolas, estudantes serão afastados de seus amigos e professores e do ambiente em que cresceram, e professores nem sabem se terão emprego para sustentar suas famílias!
Por isso, junto aos estudantes e familiares, nos juntamos nas manifestações de repúdio a reorganização proposta e dizemos em alto e bom som: “Não feche a minha escola”! Uma grande manifestação de estudantes e professores está convocada para a próxima quinta-feira, às 10 horas, na frente do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual.
Lucas Marcelino, professor da rede estadual de São Paulo.