Clodomir Morais, presente! Agora e sempre!

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CLODOMIR

É com profundo pesar que O Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco (CMVJ-PE), a Casa de Cultura Antônio Lisboa, de Santa Maria da Vitória (BA), e o Centro Cultural Manoel Lisboa de Pernambuco comunicam a morte do último dirigente nacional das Ligas Camponesas do Brasil, Clodomir Santos de Morais, ocorrida às 12h30 do dia 25 de março de 2016, na UPA de Santa Maria da Vitória, onde nasceu, no dia 30 de setembro de 1928. Depois de lutar por três meses a fio contra as terríveis sequelas de um AVC, sofrido no final de novembro de 2015, uma parada cardíaca pôs fim à vida do dirigente mais importante das famosas Ligas Camponesas do Brasil, depois de Francisco Julião.

Clodomir estudou em São Paulo, Salvador e Recife, onde se formou em Direito, na Faculdade de Direito do Recife; foi jornalista do Diário de Pernambuco, do Jornal do Commercio e escritor com mais de 20 livros publicados, a maior parte deles no exílio, alguns deles com prefácios de Josué de Castro. Em Recife tornou-se militante comunista, deputado estadual e assistente do Trabalho Militar das Ligas Camponesas, acompanhando seus vários Dispositivos Militares do Maranhão ao Estado de Goiás. Como deputado estadual, coordenou os delegados pernambucanos ao 7º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes pela Paz e Amizade, em Moscou, em 1957, entre estes estavam o então deputado estadual Francisco Julião, o Coral Bach do Recife, sob a regência do maestro Geraldo Menucci e, no decorrer do evento, recordava com orgulho ter conhecido e dialogado, fraternalmente, com Carlos Fonseca, Patrice Lumumba e Raúl Castro, que se tornaram, posteriormente, comandantes em armas de seus povos.

O governo da ditadura militar fascista, resultante do golpe de 1964, não conseguiu quebrar a altivez e a consciência de comunista revolucionário de Clodomir Morais, nem mesmo com a truculência do sequestro e da tortura. Decidiu-se, então, pela cassação dos seus direitos políticos e seu exílio. De nada adiantou. Clodomir só aumentou suas convicções na democracia popular e no socialismo. Depois de passar por vários países, fixou-se na Alemanha Oriental, onde fez mestrado e doutorado em Sociologia da Organização com a tese Elementos de Teoria da Organização, na Universidade de Rostock, onde, ao mesmo tempo era professor visitante. Logo foi contratado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como consultor para assuntos de Reforma Agrária na America Latina, Caribe e África. Seus estudos, suas experiências e pesquisas lhe permitiram criar o famoso método conhecido mundialmente por Capacitação Massiva em Organização Autogestionária, também conhecido por Laboratório Organizacional ou Experimental. Enfim, por onde trabalhou, o professor Clodomir Morais recebeu inúmeros prêmios de organizações camponesas e também do Conselho de Reitores da América Central, e, ainda, como professor visitante e conferencista em várias universidades da Europa, África e da Índia.

Ao retornar do seu exílio, em 1979, foi professor da Universidade de Brasília (UnB) e aí fundou o Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo (IATTERMUND), de onde se preparam e levam à prática projetos baseados no seu método, com uma equipe multidisciplinar, com técnicos da América, Europa e África. Até os dias de hoje, seu método de capacitação massiva segue vigente, atual.

Clodomir viveu e lecionou em Rondônia por cerca de 20 anos, inclusive como professor na Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Somente em 2012 foi residir na sua cidade natal, por recomendação médica, em função do seu clima temperado, às margens do Rio São Francisco, onde faleceu aos 87 anos de idade, de luta e esperança no futuro socialista da humanidade.

Seus livros mais destacados foram publicados em vários países e idiomas: Queda de uma Oligarquia, História das Ligas Camponesas do Brasil, O Reencontrado Elo Perdido das Reformas Agrárias, Dicionário de Reforma Agrária América Latina, 10 Reformas Agrárias, Um Futuro para os Excluídos, Cenários de Libertação (Paulo Freire na prisão, no exílio e na universidade) e no prelo, pronto para ser editado, O Trabalho Militar das Ligas Camponesas no Brasil.

Revolucionário, culto, bem humorado, respeitado em quase todo o mundo, Clodomir deixou grandes amizades na Alemanha, Nicarágua sandinista, Jamaica, Honduras, Costa Rica, México, Cuba, Chile, Equador (grande amigo do pintor comunista equatoriano Guayasamín), entre tantos outros. Aos militantes, dirigentes e estudiosos da luta pela Reforma Agrária no Brasil, na América Latina e na África, Clodomir deixa um grande legado de sabedoria no interminável trabalho de organização e de formação de quadros no movimento operário e dos camponeses pobres.

Clodomir fez uma versão resumida da sua tese, Elementos de Teoria da Organização, com as categorias essenciais do materialismo histórico para o trabalho de educação popular, já com mais de 20 edições pelo MST e outras organizações de educação dos trabalhadores do campo e dos movimentos sociais. Clodomir realizou, com muito carinho e dedicação, inúmeros cursos e palestras para a formação dos quadros do MST no seu surgimento no Sul e demais regiões do país. Atendeu todos os chamados do Centro Cultural Manoel Lisboa e do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco para proferir palestras e conferências.

Passemos a palavra a Josué de Castro, primeiro latino-americano a tornar-se presidente da FAO-ONU, depois de exilado pela ditadura, para falar sobre o valor da obra de Clodomir:

“Não creio que, de hoje em diante, seja possível analisar, meditar ou refletir seguramente sobre a reforma agrária na América Latina sem consultar amiúde esta obra de Clodomir Morais e seus colaboradores”, Paris, 16 de abril de 1972 (extraído do prefácio do livro Dicionário de Reforma Agrária América Latina).

Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco (CMVJ-PE)

Casa de Cultura Antônio Lisboa de Santa Maria da Vitória (BA)

Centro Cultural Manoel Lisboa de Pernambuco